Carlos Drummond de Andrade é o mais perto de uma uninamidade que a poesia brasileira já chegou, ao menos hoje. Principal homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) pelos seus 110 anos, o escritor está tendo um ano de gala: depois que os direitos da sua obra foram adquiridos pela Companhia das Letras, todos os seus livros estão ganhando novas edições, com direito a novos textos críticos. A Flip começa hoje (4/7) prometendo a atualidade e as questões da poética do mineiro.
A abertura do dia fica nas mãos de Luis Fernando Verissimo, com suas falas e textos sempre afiados, focando aqui nos dez anos do evento. Drummond é lembrado no segundo momento, a partir da conversa entre o crítico literário e escritor Silviano Santiago e o filósofo e poeta Antonio Cicero – antes da apresentação musical do pernambucano Lenine e da Ciranda de Tarituba.
Cicero Silviano vão fazer um panorama da obra do poeta mineiro durante o século 20, procurando localizar suas guinadas poéticas e entender a importância desses movimentos. É como Cicero costuma defender, mostrando como a modernidade do autor de José não tinha limites: até mesmo quando voltou às formas fixas tradicionais, em Claro enigma (1951), antes muito combatidas pelas vanguardas, ele está sempre se provando mais moderno que seus colegas.
Assim, Drummond pode ser visto como um dos primeiros a experimentar o cenário poético de hoje. Não há autorizações ou desautorizações na sua obra: a poesia é o que tem métrica e versos ou o que os ignora completamente; pode ser feita em formatos clássicos, em formatos novos ou justamente lutar contra eles. De certa forma, o mineiro alternou entre esses campos durante sua trajetória, e até por isso Antonio Cicero rejeita, nos seus textos, a ideia de que apenas um Drummond poderia ser citado como influência hoje. É preciso especificar de qual deles se fala, sendo tantos e tão importantes.
Talvez por não aceitar receitas, Drummond tinha uma noção muito própria de sua modernidade, nunca simplesmente aceitando assumir o ideário modernista de Mário e Oswald de Andrade. É esse “modernismo gauche” que será o tema da conversa entre os críticos e poetas Antonio c. Secchin e Alcides Vilaça na sexta-feira (6/7). No domingo (8/7), último dia da Flip, está prevista a mesa que deve melhor demonstrar a importância da homenagem ao escritor: Drummond, o poeta presente vai contar com o poeta e editor da Bravo! Armando Freitas Filho (em vídeo) e com os poetas Eucanaã Ferraz e Carlito Azedvedo para resgatar o poeta mineiro a partir de sua importância para a produção poética atual.
EXPOSIÇÃO
Além das mesas, Drummond vai ser lembrado no evento com a mostra Faces de Drummond — O poeta e seu avesso, que ocupa a Casa da Cultura da cidade. Com uma curadoria quádrupla, que inclui o curador da Flip, Miguel Conde, a exposição conta com fotografias e vídeos do acervo pessoal do poeta, reunidas no Arquivo Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, e até manuscritos com poemas inéditos.
A homenagem ao poeta de Itabira também se estende aos lançamentos de livros. A Companhia das Letras continua reeditando a obra completa do autor: saem agora Antologia poética, Sentimento do mundo, As impurezas do branco e José. O destaque da coleção é a vontade de trazer acadêmicos mais novos para comentar os versos, enriquecendo o material crítico sobre o mineiro.
Ainda será publicada durante a Flip Cyro e Drummond, a interessante troca de correspondências entre Drummond e o seu amigo jornalista Cyro dos Anjos. A única biografia do poeta, Os sapatos de Orfeu, escrita por José Maria Cançado, também ganhará nova edição.
Programação da Flip 2012:
Hoje (4/7)
19h - Abertura: Flip, ano 10, por Luis Fernando Verissimo, e Drummond 110, por Antonio Cicero e Silviano Santiago
21h - Show de abertura: Ciranda de Tarituba e Lenine
Amanhã (5/7)
10h - Mesa 1 - Escritas da finitude: Altair Martins, André de Leones e Carlos de Brito e Mello, com mediação de João Cezar de Castro Rocha
11h45 - Mesa Zé Kleber - A leitura no espaço público: Silvia Castrillon e Alexandre Pimentel, com mediação de Écio Salles
15h - Mesa 2 - Apenas literatura: Enrique Vila-Matas e Alejandro Zambra, com mediação de Paulo Roberto Pires
17h15 - Mesa 3 - Ficção e história: Javier Cercas e Juan Gabriel Vásquez, com mediação de Ángel Gurría-Quintana
19h30 - Mesa 4 - Autoritarismo, passado e presente: Luiz Eduardo Soares, Fernando Gabeira, com mediação de Zuenir Ventura
Sexta-feira (6/7)
10h - Mesa 5 - Drummond - o poeta moderno: Antonio C. Secchin e Alcides Villaça, com mediação de Flávio Moura
12h - Mesa 6 - O mundo de Shakespeare: Stephen Greenblatt e James Shapiro, com mediação de Cassiano Elek Machado
15h - Mesa 7 - Exílio e flânerie: Teju Cole e Paloma Vidal, com mediação de João Paulo Cuenca
17h15 - Mesa 8 - Literatura e liberdade: Adonis e Amin Maalouf, com mediação de Alexandra Lucas Coelho
19h30 - Mesa 9 - Encontro com Jonathan Franzen, com mediação de Ángel Gurría-Quintana
Sábado (7/7)
10h - Mesa 10 - Cidade e democracia: Richard Sennett e Roberto DaMatta, com mediação de Guilherme Wisnik
12h - Mesa 11 - Pelos olhos do outro: Ian McEwan e Jennifer Egan, com mediação de Arthur Dapieve
15h - Mesa 12 - Em família: Zuenir Ventura, Dulce Maria Cardoso e João Anzanello Carrascoza, com mediação de João Cezar de Castro Rocha
17h15 - Mesa 13 - O avesso da pátria: Zoé Valdés e Dany Laferrière, com mediação de Alexandra Lucas Coelho
19h30 - Mesa 14 - Encontro com J. M. G. Le Clézio, com mediação de Humberto Werneck
Domingo (8/7)
10h - Mesa 15 - Vidas em verso: Jackie Kay e Fabrício Carpinejar, com mediação de João Paulo Cuenca
11h45 - Mesa 16 - A imaginação engajada: Rubens Figueiredo e Francisco Dantas, com mediação de João Cezar de Castro Rocha
14h30 - Mesa 17 - Drummond – o poeta presente: Armando Freitas Filho (em vídeo), Eucanaã Ferraz e Carlito Azevedo, com mediação de Flávio Moura
16h30 - Mesa 18 - Entre fronteiras: Gary Shteyngart e Hanif Kureishi, com mediação de Ángel Gurría-Quintana
18h15 - Mesa 19 - Livro de cabeceira: convidados da Flip leem trechos de seus livros prediletos