ABERTURA

Drummond dissecado na Flip

Abertura do evento contou com breve fala de Luis Fernando Verissimo e análises de Silviano Santiago e Antonio Cicero

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 05/07/2012 às 6:15
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Com 20 minutos de atraso e algumas cadeiras vazias, a Festa Literária Internacional de Parati (Flip) abriu oficialmente a sua programação na Tenda dos Autores quarta (4/7). Quem celebrou os dez anos do evento foi o escritor e cronista gaúcho Luis Fernando Verissimo, lendo um texto curto sobre a importância do evento e sobre suas participações anteriores. Na sequência, o crítico literário e poeta Silviano Santiago e o filósofo e poeta Antonio Cicero fizeram considerações sobre a poética do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, grande homenageado do evento. A noite foi fechado com os shows da Ciranda de Tarituba e do cantor pernambucano Lenine, que tocou o repertório do CD Chão.

 

Verissimo foi apresentado pelo jornalista e curador da Flip Miguel Conde, a quem já havia confessado que "viria para o festival até para trocar uma lâmpada". Com seus trejeitos tímidos e descontraídos, o gaúcho começou lembrando uma gafe que comentou há quatro anos, na sua primeira participação no evento: começou dizendo que é "sempre um prazer estar na Clip". Arrancando sempre risadas do público, quase como um comediante stand-up, disse considerar a Flip "uma conspiração para nos deixar mais inteligentes” e falou pouco, demorando pouco mais de 10 minutos no palco.

 

Silviano Santiago fez um belo texto crítico, comparando a trajetória de Drummond com a do seu irmão um pouco mais velho, o século 20. Apesar de considerar a tarefa de falar com tamanha concisão sobre uma poética tão complexa, ele pensou o poeta mineiro a partir de uma tensão entre dois mitos: o mito de começo e o mito de origem.

 

Pelo mito de começo, Silviano disse entender o ímpeto de recriação do mundo, sem levar nada da organização atual da sociedade. É o motor revolucionário de Drummond, o "Proust mineiro", que se choca com sua poética da origem, em que reflete (e abraça) os valores antigos e atemporais da sua herança da oligarquia do seu pai, os Andrades.

 

Antonio Cicero, por sua vez, se deteve em uma análise detalhada do poema A flor e a náusea, do livro Rosa do povo (1945), vendo nele a relação de um eu com a cidade, a sociedade e o mundo - uma relação política e subjetiva ao mesmo tempo: "Façam completo silêncio, / paralisem os negócios, / garanto que uma flor nasceu". Cicero comentou ainda a influência da filosofia política na obra de Drummond, de Karl Marx até Jean-Paul Sartre, enxergando que a poética drummondiana apresenta bem as contradições descritas pelo conceito marxista de fetiche.

 

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quinta (5/7)

 

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