QUADRINHOS

O olhar de Craig Thompson do islamismo

Habibi, novo quadrinho do autor americano, narra com virtuosismo a sofrida história de dois ex-escravos

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 18/09/2012 às 6:50
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Habibi, novo quadrinho do autor americano, narra com virtuosismo a sofrida história de dois ex-escravos - FOTO: Divulgação
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Os clássicos são infinitas fontes para a criatividade de autores. Um livro cheio de história dentro dele mesmo como As mil e uma noites, então, é uma espécie de parente de todas as metanarrativas e mitologias que o sucederam. Foi a partir do imaginário das culturas e religiões árabes que o quadrinista americano Craig Thompson, autor do celebrado Retalhos, criou o seu novo trabalho, Habibi (Quadrinhos na Cia, 672 páginas, R$ 57), traduzida por Érico Assis.

Na HQ, Thompson mergulha nesse universo por meio da história de duas crianças órfãs que se conhecem quando estão sendo vendidas como escravas. Dodola é mais velha – já havia sido vendida como esposa, ainda com nove anos – e cuida de Zam, um bebê negro abandonado. A menina foi alfabetizada pelo falecido marido e, morando em um barco abandonado no meio do deserto, passa o tempo contando histórias do Corão para o seu companheiro.

No restante da história, o autor faz os dois personagens passarem por duras provações: Dodola, por exemplo, precisa se prostituir para manter os dois. Ambos terminam se perdendo um do outro na cidade fictícia de Vanatólia, em que passam por diferentes dificuldades. A narrativa, apesar dessa complexa trajetória pessoal dos personagens, nunca perde o seu ar grandioso, a ideia de que se propõe a condensar em parte as complexas tradições e lendas da cultura árabe.

Thompson já revelou em entrevistas que procurou construir um “conto de fadas” em Habibi. Apesar de fazer um retrato belo e angustiante da vida desses dois personagens, é inegável a preferência do autor por olhar ingênuo em relação ao mundo árabe. Sua opção é pelo belo, e até a dor dos protagonistas é pensada e mostrada da forma mais estética (e, por isso, artificial) possível.

O destaque do livro, no entanto, é a capacidade impressionante do quadrinista de construir páginas que mantêm sua função narrativa e, ao mesmo tempo, deslumbram os olhos. Thompson gosta de afirmar que “a caligrafia é música para os olhos”, e é exatamente um ritmo próprio que ele tenta impor nas palavras e imagens (que, igualmente trabalhadas, quase se fundem). A estética da língua árabe, em sua impressionante visualidade, se funde com a própria narrativa.

Para o tradutor da obra, Érico Assis, trata-se de uma “ética de virtuoso”. “Ele não quis contar a história de forma simples, mas sim explorar ao máximo o desenho, a integração com o texto, a pesquisa sobre o islamismo. Tudo demonstra muito esforço, dias de trabalho. Não é à toa que ele levou oito anos para conclui-la”.

Também pesquisador de quadrinhos, ele afirma que a recepção crítica da obra tem sido variada nos Estados Unidos. “Alguns críticos viram um olhar muito ocidental sobre as tradições islâmicas – não chegaram a acusar o Thompson de preconceituoso, mas talvez de não entender muito bem algumas tradições do Oriente”, comenta.

Veja aqui um trecho da HQ.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta terça (18/9).

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