É difícil acreditar, hoje em dia, que Samarone Lima tinha algum receio de mostrar a sua poesia. O jornalista e escritor cearense radicado em Pernambuco havia publicado três livros – as reportagens Zé, Clamor e Viagem ao crepúsculo –, mas, ainda assim, temia mostrar sua produção mais íntima, os versos, criados em um blog escondido. Finalmente, no final do ano passado, o autor lançou Tempo de vidro e A praça azul. Ao longo do ano, qualquer rastro daquele medo inicial deve ter se esvaído: os livros foram indicado ao prêmio Jabuti de poesia, um reconhecimento nada discreto para uma estreia.
Em O aquário desenterrado (Confraria do Vento, 84 páginas), seu novo livro de poesia lançado hoje, no Centro Cultural Correios, Samarone aprofunda seus versos paradoxalmente sólidos e pessoais. São textos que, com delicadeza, investigam o próprio passado, como se dos restos – cadernos esquecidos, lendas familiares, fotos em preto-e-branco – é que se pudesse criar um manifesto poético.
Em um dos versos, A casa da tia, o livro traz também uma síntese do olhar de Samarone em direção ao passado, sempre visto com essa névoa do que é inatingível. Um dos melhores trechos surge do confisco da residência em que passava as férias por conta das dívidas. “O que faria o Banco do Brasil/ com a casa da tia/ a não ser blasfemar nossa infância?”. A poesia, para Samarone, é uma forma de defender a memória dessas heresias cotidianas do mundo tristemente material.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quinta (18/12)