MACONDO

As outras leituras da América Latina na literatura

Antes e depois de Gabriel García Márquez, o continente foi recriado na escrita das mais diferentes formas

Diogo Guedes
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Publicado em 28/04/2014 às 0:53
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Apesar do amplo alcance do simbologia de Macondo, a América Latina foi, é claro, alvo de visões diversas na literatura. Desde a afirmação do mexicano Octavio Paz de que o continente “é uma utopia” até a McOndo de Alberto Fuguet, os caminhos são singulares, principalmente após a consagração de Gabriel García Márquez e da sua geração.

O argentino Jorge Luis Borges é um dos principais nomes, nesse sentido. “Ele criou a ideia de um escritor na periferia, nos lembrando que a literatura é um fator urbano, proporcionando uma visão muito mais sofisticada da noção de regionalismo do que aquela que tivemos no Brasil: regionalismo não fala de cidade ou de campo, mas de termos temporais”, destaca Schneider Carpeggiani.

“Um escritor tão genial como García Márquez sempre gera defesas e questionamentos sobre sua obra”, explica Rafael Gutiérrez. Segundo ele, muitos autores tentaram imitá-lo, sem fazer nada altura. Schneider concorda: para ele, a obra de autores como Isabel Allende diluiu os ganhos desse “boom” da literatura latino-americana. Para se livre da tentação da influência de Gabo e Vargas Llosa, os autores da geração seguinte precisaram cometer o chamado “parricídio” dos seus pais literários. O chileno Alberto Fuguet foi o que o fez de forma mais direta: junto com Sérgio Gomez, fez uma antologia de novos autores chamada McOndo, união de McDonald’s e a cidade criada pelo colombiano.

No entanto, para Schneider e para Rafael, os melhores autores são os que buscaram um caminho próprio, sem essa oposição direta. O principal é o chileno Roberto Bolaño, autor de Os detetives selvagens e 2666. “Poucos autores conseguiram condensar uma tradição literária, e ainda com a ironia de quem viu a história, como ele”, atesta Schneider. O argentino Roberto Piglia não fica para trás. “E claro que é preciso ler Respiração artificial, de Piglia, obra que nos resume logo nas primeiras páginas: ‘Depois da descoberta da América não aconteceu mais nada nestes lares que mereça a mais mínima atenção. Nascimentos, necrológios e desfiles militares: só isso’”, conclui.

 

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