ROMANCE

Débora Ferraz lança seu primeiro livro na Flip

Vencedora do Prêmio Sesc, a autora de Serra Talhada vai autografar Enquanto Deus não está olhando

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 02/08/2014 às 4:59
Foto: Bruno Vinelli/Divulgação
Vencedora do Prêmio Sesc, a autora de Serra Talhada vai autografar Enquanto Deus não está olhando - FOTO: Foto: Bruno Vinelli/Divulgação
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“Você devia escrever histórias regionais. Para fazer as urbanas, já existem os escritores de outros cantos, de São Paulo”. A conversa com um colega, em 2008, mexeu com a escritora e jornalista Débora Ferraz. Pernambucana de Serra Talhada e morando desde 2001 em João Pessoa, ela não aceitava esse destino de escrever sobre o sertão pitoresco – até porque boa parte dele era mais imaginado do que real. A partir dessa frase, Débora saiu com a ideia de escrever seu primeiro romance, Enquanto Deus não está olhando (Record).

Seriam seis anos para concluir a obra. No meio do caminho, seu pai morreu, imitando o destino do pai de Érica, a aspirante a artista plástica do romance. O processo doloroso de criação da narrativa, no entanto, não se mostraria em vão: depois de inscrever o título pela segunda vez no Prêmio Sesc de Literatura, um dos maiores para inéditos no Brasil, foi selecionada como vencedora na categoria de romance, com júri composto por Luiz Ruffato.

Hoje, dentro da programação da Casa do Sesc na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ela lança a obra ao lado do paulista Alexandre Marques, autor de Parafilias, ganhador na categoria de contos. A primeira noite de autógrafos, na última segunda, na Academia Brasileira de Letras, foi o contato inicial com os leitores.

“Quando recebi a notícia de que tinha ganho o prêmio, não acreditei. Tive vontade de perguntar: ‘Tem certeza?’. A ficha está caindo aos poucos, recentemente peguei o livro nas mãos, depois teve o lançamento, agora ouço que uma ou outra pessoa leu”, conta a escritora. Explicar o livro ainda é um pouco assustador para ela – “a melhor forma de descrever o livro está naquelas 366 páginas, na verdade” –, mas não custa nada tentar. A protagonista Érica procura entender a relação com o próprio pai depois que ele desaparece de uma clínica para dependentes químicos. Nesse interior do Nordeste não nomeado, ela parte nessa busca, que também revela a sua dificuldade em amadurecer. Tudo isso ao redor de um momento, um “instante definidor”.

A morte do pai, em 2008, levou o romance a entrar num hiato de três anos. Só em 2011 ela voltou à obra e viu que ela funcionava, “ficava em pé por conta própria”. Quando o livro não venceu o Prêmio Sesc de 2013, mas ficou entre os finalistas, ela voltou ao trabalho. “Vi personagens que precisavam ser desenvolvidos, cenas em que os protagonistas pareciam falar com espaços vazios”, revela.

O primeiro livro de Débora, Anjos, foi lançado em 2003, quando ela tinha 16 anos, bancado pela própria autora – uma obra que ela considera imatura. Em 2005, Débora participou de uma oficina de Raimundo Carrero em João Pessoa. “Foi muito importante. Ele confirmou uma suspeita minha: a de que não existe inspiração, que isso é coisa de preguiçosos. Outra coisa que ele disse é que o narrador não tem estilo, quem tem estilo é o personagem”, lembra a pernambucana. Além disso, no momento de leitura das produções dos alunos, ela ouviu o julgamento de Carrero: “Você já é escritora”.

O autor de Salgueiro é um dos preferidos dela da atualidade. “O que ele consegue fazer com seus personagens não é brincadeira”, destaca. Na lista de leitura indispensáveis, Débora aponta ainda Hemingway, Scott Fitzgerald e Faulkner. Dos contemporâneos, ele ainda destaca o gaúcho Altair Martins. “Ele é monstruoso, A parede no escuro me influenciou bastante”, comenta.

Com o romance já nas livrarias, agora a autora espera a recepção da crítica e dos leitores. Um dos medos é em relação à extensão do romance, com 366 páginas, que pode afastar um pouco as leituras. “Também tentei tecer a linguagem de uma maneira que ela fosse aparentemente simples, não há nenhuma palavra em que você demora ou empaca. Quis dar uma fluidez determinada pelo texto, espero que me faça compreender”, pondera a escritora.

Desde que o submeteu o livro para o Prêmio Sesc, Débora precisou parar de mexer em Enquanto Deus não está olhando, para não alterar o livro completamente. Nesse intervalo, então, começou uma nova narrativa. “Começo estruturando a obra na minha cabeça, crio as cenas principais. Estou já com uma parte escrita dessa nova obra”, revela. O enredo vai mostrar uma arquivista que decidiu tatuar o corpo completamente para desaparecer. “O livro começará, por enquanto, no final da história e voltará para o começo; quero mostrar ela aparecendo nesse retorno ao corpo sem tatuagens”, descreve.

Leia mais no Jornal do Commercio deste sábado (2/8).

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