
As ruas, praças e parques sempre foram espaços abertos para encontros, diálogos e debates. Em tempos de ocupação urbana, discussões sobre mobilidade e uma vitrine aberta para a produção artística no universo virtual, a literatura começa a sair dos ambientes tradicionais de exposição nas livrarias e encontra nos lugares públicos um meio alternativo de convergência e diálogo mais direto com seu público. Fugindo da maré que arrasta os trabalhos para as redes sociais, autores procuram interagir cada vez mais com seu público-alvo. O olho no olho, tête-à-tête, substitui a cadência desenfreada de comentários e compartilhamentos virtuais pela opinião direta de seu leitor.
É por esse caminho que segue o poeta André Arribas. De sorriso largo, ele carrega sua poesia em uma verdadeira geringonça ambulante – como ele brinca ao falar de sua bicicleta – e busca a interatividade com as pessoas em parques e praças, com seu projeto Pé de Letra.
Foi no Movimento Cartonero que o ex-dono de bicicletaria encontrou o espaço ideal para expressar a poesia que estava inerte em sua mente. “Costumo brincar que a gente nasce poeta. A poesia paira sobre nós muito mais do que a gente imagina. As pessoas precisam apenas serem provocadas para descobrir sua arte. E daí é um passo para que ela se materialize. Quando isso acontece a gente se sente mais completo”, afirma.
O encontro com as publicações em papelão veio na última Bienal do Livro de Olinda com a palestra Não há papelão sem sonho, da professora portuguesa radicada na França Andrea Joana Silva. “Assisti à palestra e me encontrei totalmente. Vi que aquela era a forma ideal para me expressar e aproveitei para unir a literatura com minha outra paixão: a bicicleta. No dia seguinte já estava realizando meu primeiro livro cartonero”, revela André.
Da primeira publicação cartonera do poeta André Arribas para o nascimento do projeto Pé de Letra, passaram-se seis meses, tempo necessário para o amadurecimento da ideia e para tomar coragem para o novo caminho. “Demorei um pouco para criar coragem e divulgar meu trabalho. Tudo o que foge ao padrão que você está acostumado gera um pouco mais de receio”, explica ele, que hoje se dedica integralmente à poesia.
Leia a matéria completa no JC deste domingo (10).