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Xico Sá lança livro apaixonado sobre musas

O livro das mulheres extraordinárias reúne cem crônicas num inventário de suas obsessões eróticas

Renato L
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Renato L
Publicado em 11/08/2014 às 12:59
Bobby Fabisak
O livro das mulheres extraordinárias reúne cem crônicas num inventário de suas obsessões eróticas - FOTO: Bobby Fabisak
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O homem mais apaixonado do mundo, está de volta. Cheio de amor para dar, Xico Sá rende homenagem no novo trabalho, O livro das mulheres extraordinárias, publicado pela Três Estrelas, a nada mais, nada menos do que cem beldades nascidas no território nacional. Esse inventário de suas obsessões eróticas reúne desde as pernambucanas Catarina Dee Jah, Lia de Itamaracá, Hermila Guedes e Maeve Jinkings até lendas vivas da classe de Beth Faria e Sônia Braga, passando por celebridades como Sabrina Sato e Grazi Massafera. Cada uma merecedora da devida crônica gerada pelo voyeurismo insaciável desse jornalista nascido no Crato (CE), mas, como faz questão de afirmar, formado de corpo e alma nas ruas do Recife.

“Aqui estão meus amores televisivos, cinematográficos, dramáticos, musicais, artísticos”, avisa ele na apresentação. A inspiração para montar esse time de musas veio de outra de suas paixões, a literatura, em que escritores como Alberto Moravia e Honoré de Balzac aparecem como precursores de uma certa maneira de ver e entender o universo feminino.

Combinados a nomes da música como Vinícius de Moraes e Fausto Fawcett, eles revelam os segredos dessa arte metonímica em que a parte responde pelo todo, quando “basta uma covinha solitária do lado esquerdo, um nariz grande (como amo!), uma omoplata, belas saboneteiras ou até mesmo uma hipótese de barriguinha” para incendiar a imaginação do amante platônico. É assim que entram na lista os pelos pubianos de Cláudia Ohana, o sorriso de Cláudia Abreu ou a voz sensual de Íris Lettieri.

Com essa largueza de possibilidades, só restou a Xico Sá confiar em um critério para definir as homenageadas: “Foi o critério da comoção, do alumbramento – aquele impacto fundamental no primeiro olhar – e do tesão que deveras sinto. E, sobretudo, o critério da desordem. É que a gente nunca sabe, em momentos deliciosamente cruéis como o dessa lista, o lugar certo de colocar o desejo, como aprendi na música de Caetano Veloso que faz parte da trilha do filme A dama da lotação”, lembra também na abertura.

A desordem, no caso, fica garantida pela presença da estilista e modelo transexual Lea T, aquela que já era “a mais bonita brasileira mesmo sem operação alguma”, merecedora de um insistente pedido de “casa comigo?” e desse gesto de coragem quase suicida que é beijá-la na boca “em pleno Ba-Vi, nas arquibancadas do Barradão ou de Pituaçu”.

As loucuras do amor, contudo, nem sempre transformam nosso cronista em um voyeur destemido. Pelo contrário, ele deixa claro, já nas primeiras páginas, que “neste exercício, segui as mulheres de longe, como o mais discreto dos admiradores anônimos”. “Em outras ocasiões, preferi o diálogo, jamais a entrevista, com minhas personagens.”

É assim, quase tímido, que ele esbarra precocemente em uma Marisa Monte no início de carreira, em alguma noite perdida dos anos 1980, “revelação de diva e divindade”. Ou informa a Patrícia Poeta que “receberia as piores notícias dos teus lindos lábios”. Ou, ainda, entrega o vexame que passou ao ver Giulia Gam na São Paulo do início da década de 1990, quando “derramou um chope no chão do Frevinho da Rua Augusta” e “gelei, tremi, era como se fosse um amor à vera mesmo. E era”.

Seja na versão destemida, seja como educado flaneur, Xico Sá tem sempre o desafio de traduzir para o papel seus objetos de desejo. Às vezes, ele não é bem-sucedido e o material ganha um quê de forçado, feito apenas para completar o projeto. Quando acerta a mão, no entanto, mostra porque hoje é um dos melhores cronistas em atividade no País.

É o caso da série de haicais feitos em homenagem à cantora mineira Fernanda Takai. “O que me intriga:/por fora, cigarra/dentro, formiga... se é meiga/sou eu que derreto/qual manteiga” (...) “Bashô na fonte/Haicai de orvalho/Belo Horizonte”, declama apaixonado. Mesmo em um exercício descompromissado como esse, quando a paixão roxa e a linguagem se acertam, são como dois corpos ardentes.

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