ENTREVISTA

Sidney Rocha lança uma nova versão do romance Sofia

Lançada há 20 anos, a narrativa ganhou uma nova roupagem, com várias alterações

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 13/09/2014 às 5:05
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Um romance nunca termina: para a maioria dos escritores, enquanto o texto continuar nas suas mãos, haverá mudanças, aperfeiçoamentos, testes, transformações. O cearense radicado em Pernambuco Sidney Rocha é um grande exemplo disso: publicou há 20 anos o livro Sofia, uma ventania para dentro (Fundarpe), que ganhou o Prêmio Osman Lins, mas a história não parou de se mover. Saiu em outra versão, bilíngue e modificada, pela Ateliê Editorial, em 2005. Agora, o autor publica uma terceira versão da narrativa, chamada só de Sofia, completamente alterada, com edição pela Iluminuras.

Sidney começa a viajar hoje pelo Paraná para divulgar a obra, com lançamentos em cidades como Ivaporã, Campo Mourão, Paranavaí, Umuarama e Maringá. “Sempre me senti um escritor inconcluso, mesmo quando termino algo. Nesses anos vim alterando o texto, e isso já é bem visível já na segunda edição. Agora o romance se transformou em um novo romance. Quem o leu antes ‘se’ reconhecerá nele tanto quanto o novo leitor, de novíssima geração”, conta o autor. “E, ora, o que realmente significa escrever? Escrever é criar um sistema que se valida a cada vez que se escreve. Por isso me sinto à vontade para alterar o que escrevo o tempo todo, se possível.”

Sofia, em todas as suas versões, apesar das grandes singularidades de cada, conta a história de uma paixão por uma personagem misteriosa, que prefere não entender as coisas e nem se prender a elas. O nome dela é repetido, como um pequeno prazer do narrador do volume. Ela provoca uma fascinação equivalente à Lolita de Nabokov – Sidney vê semelhanças entre os narradores das duas histórias, ambos pouco confiáveis, apesar da diferença no enredo e na abordagem. “‘Um romance sobre nada’, esse foi um ponto na minha linguagem que já antecipava Carrero, há 20 anos, na quarta capa da primeira edição de Sofia, lembrando do mesmo desejo: escrever sobre o nada – que tinha Flaubert”, lembra.

Segundo ele, as alterações não foram só em palavras, frases ou parágrafos. “Capítulos desapareceram e reaparecem noutro formato. Ou se transformam numa única oração. Uma frase ganha peso e compactação de capítulo. Quem ler essa Sofia notará que a proposta é radical e que as alterações durante esse tempo legitimam a personagem: ela quer mudanças, exige. E para mudar, segundo ela, é necessário perder-(se) um pouco. Mas ganhar noutras partes. O livro ganhou arejamento, limpeza, novos pontos de vista”, explica. “Mudar de verdade é ser um outro.”

Se Sofia mudou tanto, é um sinal de que Sidney também é outro? “Sim, sou outro, paradoxalmente, sendo o mesmo. Esse romance é uma anamnese completa”, brinca. “Algum dia deverão ler os três livros profundamente para tentar não puramente uma crítica genética, mas para notar como um autor procura uma linguagem própria, que é o que deve buscar sempre um escritor de verdade.”

O próximo livro de Sidney, Geronimo, é também a sua primeira narrativa completamente inédita no gênero desde Sofia – nesse intervalo, publicou dois volumes de contos, Matriuska e O destino das metáforas, vencedor do Jabuti. Geronimo, como é de se esperar de um autor 20 anos mais experiente, é uma obra muito distinta da primeira. “Há pontos que sempre estarão lá, nos dois, mas como eu disse ao Vacatussa: No caminho, a vida tratou de agir com toda a força que podia. Minha literatura sempre refletirá o que sou, por isso será sempre transgressora. Fugi de casa pela janela. Boas maneiras não combinam com literatura”, afirma. “Agora, quero que meus leitores se comportem, e leiam esse livro novo.”

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