Nada de bate-papos com escritores, debates conceituais ou performances. Para falar de literatura, o evento Noites Cartomantes, que realiza sua primeira edição nesta quinta (16/10), coloca em destaque a parte mais importante da escrita – o texto. Com três leituras a cada edição, sempre se focando em obras inéditas ou que pouco circularam, a proposta da Mariposa Cartonera é dar espaço para esse contato direto entre escrita e público.
Previsto para acontecer uma vez por mês no Café Castro Alves, às 20h, o evento promete atrações de peso, cada uma representada por uma carta do tarô. Hoje, a escritora pernambucana Micheliny Verunschk lê e lança o seu primeiro romance, Nossa Teresa (leia mais abaixo), sob o signo da carta do Eremita. O cearense Everardo Norões, finalista dos prêmios Jabuti e Portugal Telecom com o volume de contos Entre moscas, vai mostrar alguns textos do livro, que ainda vai ganhar lançamento no Recife neste mês, usando a carta A Torre Fulminada. Por fim, eles se juntam a uma das revelações do Prêmio Pernambuco de Literatura deste ano, o escritor Tadeu Sarmento, que escolheu a carta do Diabo e vai apresentar uma parte do ainda inédito romance Associação Robert Walser para Sósias Anônimos.
O organizador das Noites Cartomantes, Wellington de Melo, conta que a ideia veio de observar o cenário literário local. “Sempre que tento criar um evento diferente, busco incentivar algo que não está sendo feito na atualidade. Quando criamos o Laboratório (talk-show sobre crítica), víamos que faltava esse espaço em Pernambuco, e muito coisa surgiu nesse meio tempo”, comenta. “Hoje, noto que os eventos literários giram em torno da figura do autor ou de temas conceituais e o texto mesmo costuma ficar de fora.”
Wellington ainda destaca que o objetivo foi recuperar esse contato entre obras e leitores. Nas Noites Cartomantes, cada um dos convidados vai ler durante 22 minutos, participando depois de uma conversa aberta com o público. É uma noite de livros sem muito pirotecnia, ele garante: são os autores lendo para os presentes, sem palco, em uma espécie de “quebra da quarta parede” literária. Cada temporada terá 22 escritores, e cada um vai virar uma carta do tarô personalizada, que será distribuída para quem contribuir com o evento.
A ideia de “ler o futuro” através das cartas fez o organizador – na sua curadoria “egoísta”, como ele mesmo brinca – procurar abrir espaço para obras inéditas que ele mesmo gostaria de apreciar com antecedência. “Tem um pouco da cartomancia mesmo, de revelar segredos. Mas, na verdade, quem deu esse título para o evento foi Wilson Freire e eu gostei. O melhor é que posso inventar uma desculpa para o nome a cada noite, se quiser”, diverte-se o editor da Mariposa Cartonera.
Outra singularidade do evento é a entrada: as Noites Cartomantes pedem ao público para pagar o quanto puder para conferir as leituras. “É uma forma de tentar fazer as pessoas enxergarem valor na literatura. Um show cobra R$ 200 por entrada, e mesmo o que é independente na literatura é sempre de graça. É uma forma de provocar”, afirma Wellington.
Além dessa edição de estreia das Noites Cartomantes, a programação até o fim do ano já está pronta. No dia 13 de novembro, o público poderá conferir em primeira mão uma leitura do novo livro de Raimundo Carrero, O senhor agora vai mudar de corpo, que ficcionaliza a recuperação do autor depois de um acidente vascular cerebral (AVC). No mesmo dia, a pesquisadora Maria Alice Amorim mostra seu lado de autora, revelando um pedaço do livro inédito Ilha do Fogo, e o poeta Jonatas Onofre recita versos do volume Entre o Tigre e o Eufrates.
No mês seguinte, no dia 11 de dezembro, Gerusa Leal, Fred Caju e Sidney Rocha adiantam suas próximas obras através de leituras. Os escritores vão ler, respectivamente, trechos dos livros Fardos, As tripas de Francis Conceição por ela mesma e Claroescuro.
Leia mais no Jornal do Commercio desta quinta (16/10).