O escritor catalão Enrique Vila-Matas já comentou que ler Marguerite Duras (1914-1996) é uma experiência do extremo. Não existe “gostei” ou “achei mais ou menos” em relação à obra da autora francesa – ou a pessoa a ama ou a odeia completamente. É o destino dos grandes escritores, ele afirma: “aqueles que inovam ou arriscam, não agradam todo mundo”.
Um dos principais nomes da prosa francês, Marguerite tem o seu centenário celebrado no Recife de 5 a 15 de novembro, na Aliança Francesa. A programação de Descobrindo Marguerite Duras conta com menu gastronômico, uma peça inédita, sessões de filmes e videoarte, debates e até uma versão local de um mercado de pulgas parisiense, aberto ao público para participar. O evento começa na próxima quarta-feira (5/11).
Em abril deste ano, o mundo começou a celebrar os 100 anos do nascimento da escritora, nascida em Saigon na época da colonização francesa. O chef, médico e dramaturgo Claudio Kovacic pensou que seria uma boa oportunidade para abordar as provocações e reflexões da obra e da vida de uma das suas autores preferidas. Foi atrás do diretor local da Aliança Francesa, Adrien Lefèvre, que logo topou sediar o evento.
Kovacic assumiu a curadoria de Descobrindo Marguerite Duras e procurou, encarnando o espírito do diálogo entre a cultura francesa e a brasileira, trazer reinterpretações da obra da escritora ao longo do evento. Não por acaso, vai fazer ali a estreia da primeira peça que escreveu e dirigiu sozinho, o monólogo Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras. Ali, revela uma Marguerite – interpretada pela atriz Ceronha Pontes, que viveu outra personagem francesa na elogiada montagem de Camille Claudel (2013) – que mora no Recife atual, conheceu Clarice Lispector e fala da própria vida, da literatura e da morte.
“Conheci a obra dela com 11 anos. O amante, sobre uma menina de 14 anos que vai seduzir um homem rico chinês, era um livro quase proibido nas famílias. Meu irmão ganhou um exemplar e eu peguei para mim – até hoje isso é um segredo na minha família”, conta o chef. Apaixonado desde a adolescência pela ficção ensaísta da autora, destaca não só a abordagem da autora sobre os gêneros e sobre a própria sexualidade de Marguerite, como também sua preocupação em escandalizar a todos também através dos seus fortes silêncios literários.
A programação ainda conta com um menu especial, Claudius, para o Bistrot La Comédie, feito pelos chefs Claudio Manoel e Claudio Kovacic, com preços populares (R$ 35 a refeição com entrada, prato – carnívoro e vegetariano – e sobremesa, e R$ 20 os petiscos). A bailarina Silvinha Góes ainda vai fazer uma versão especial do espetáculo OsseVao, com frases de Marguerite. No domingo, a Aliança Francesa vai virar um mercadinho, com brechós locais, aquarelas, desenhos, livros e aberto a quem quiser vender seus produtos.
Confira a programação completa do Descobrindo Marguerite Duras:
Quarta, 5
12h – Estreia do menu temático “Claudius”, no Bistrot La Comedie, com cardápio elaborado a quatro mãos pelos chefs Cláudio Manoel e Cláudio Kovacic*
*Todos os dias do evento, o menu será oferecido no almoço e no jantar, com entrada, prato principal e sobremesa no valor de R$ 35. Também estão no cardápio quitutes para serem degustados durante todo o dia, a R$ 20 cada.
20h – Avant première da peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Com coquetel para convidados
Quinta, 6
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Estreia para o público da peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Sexta, 7
16h45 – Falemos de Duras: envolvendo os alunos da Aliança Francesa na programação do centenário de Marguerite Duras
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Sábado, 8
15h às 19h – Simplesmente Gênero: Documentários - The ballad of genesis and lady jayne”, “Mon cerveau a t-il un sexe ?”, “Françoise Héritier et les lois du genre”, “XXY” e “Pleure ma fille, tu pisseras moins”
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Domingo, 9
10h30 às 18h30 – Marche aux puces
Bazar com brechó (A Vaca Foi para o Brechó, Ateliê de Carol Monteiro e Wundabar), aquarelistas (Dan Cabral e Dani Pessoa), desenhos de Dani Acioli, livros do La Seboza Páginas Ambulantes, origamis de Eva Duarte, instrumentos artesanais do Castanho Instrumentos Percussivos, peças do Artes Artesanatos Reciclados, astrologia, dança, apresentação da banda de percussão Adamante e comidinhas de cozinheiros novos e divertidos da cidade
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Segunda, 10
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
Terça, 11
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
21h15 – Simplesmente bissexualidade: “barbi-papo” entre Tatiana Ranzani Maurano (psicóloga social especialista em assuntos LGBT) e convidados
Quarta, 12
18h – Mostra de Artes Visuais – Fundaj
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
21h15 – Simplesmente no limite: vinho e verbo com Beatriz Ivo (jornalista e consultora sênior especialista em marketing e comunicação) e convidados
Quinta, 13
18h – Exibição do filme “Hiroshima, mon amour”
20h – Peça “Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras”
21h – Solo de dança “OsseVao”, de Silvinha Góes
Sexta, 14
17h – Exibição do filme “O amante” + bate-papo com Catarina Andrade (Cineclube da Aliança Francesa Recife)
19h – Apresentação ao ar livre de violino e violoncelo
Sábado, 15
11h às 17h – Alegoria da primavera: encerramento dos festejos com performance da artista visual Isabela Faria, performance musical de tango de Mayra Clara Vitorino, mercadinho de quitutes, música e dança. Participam do mercadinho: Kovacic A Arte de Cozinhar, Ana Claudia Frazão, Siwichi, Vegetariano, Sociedade Vegana Brasileira, Lucas Piubelli, A Comedie, Nathalia Mesquita Drink’s, Mrs. Peppers – Charcutiere, O Tapete Mágico e outros.