"Ler é filmar", sintetizou Xico Sá. O escritor conversou com a pesquisadora e produtora Isabela Cribari sobre adaptações literárias para a 7ª Arte durante o segundo dia do Congresso Literário da Feira Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), nesta sexta-feira (14), no auditório do Colégio de São Bento, em Olinda. Cinema e literatura: casamento suspeitoso, união estável ou de conveniêcia foi o tema do debate que teve início às 14h.
Para adaptar Big Jato, seu primeiro romance, para a telona, Xico lança mão da cumplicidade do compadre Cláudio Assis, cineasta que assina filmes como Amarelo manga e Febre do rato, cujo argumento foi escrito pelo jornalista. Neste caso afetivo e fraternal entre os dois, o autor revela, as formalidades são deixadas em segundo plano. "Ao passo que você lê, as imagens e sensações se apresentam, é tudo muito particular. E eu queria passar mais longe possível deste processo de produção do filme para que ele pudesse ter a leitura dele. A minha única exigência era que ele desse o ponto final na história", conta.
Sobre a leitura individual do diretor, ou mesmo sobre a adulteração da obra em benefício da linguagem audiovisual, Xico se mostra liberal. "Sou pela desobediência. E, pra começar, é o primeiro romance de um cronista, então o peso é menor. Imagina a responsabilidade de adaptar Vidas secas, de Graciliano Ramos? Já existe uma expectativa em torno disso. Acho que todo livro pode sim, ser adaptado. Desde que saibamos que esse é o livro e que esse é o filme. Não é um bom exercício ficar entrando nesse universo de qual é melhor ou pior. A obra está aí para ser reinventada, rebrincada", provoca.
BIG JATO
Quarto filme da carreira do diretor Cláudio Assis, o filme Big Jato se trata de uma adaptação do livro homônimo escrito por Xico Sá, cujo roteiro é assinado por Hilton Lacerda e Anna Carolina Francisco. As gravações aconteceram no interior de Pernambuco, na divisa entre o Agreste e o Sertão, na vila de Cimbres, no município de Pesqueira, e no Vale do Catimbau, em Buíque.
Como aconteceu nos últimos três filmes de Assis, o ator Matheus Nachtergaele está no elenco. Em contrapartida, o filme ficou sem a direção de fotografia de Walter Carvalho, parceiro de longa data na produção audiovisual do diretor pernambucano. A assinatura da fotografia agora é de Marcelo Durst, que trabalhou com Assis no curta Soneto do desmantelo blues (1993), sobre o poeta Carlos Pena Filho - seu primeiro filme a flertar com a literatura.
Big Jato é o nome do caminhão-pipa utilizado para limpar fossas de uma cidade sem saneamento básico. Ele é de propriedade do personagem vivido por Nachtergaele, que tem seu filho como acompanhante no trabalho e na estrada.