Livro

Ronaldo Correia de Brito lança conto sobre violência contra mulher

"Atlântico" sai nesta quinta (26) pelo selo Mariposa Cartonera. O lançamento é às 20h, no Café Castro Alves

Mateus Araújo
Cadastrado por
Mateus Araújo
Publicado em 26/03/2015 às 13:34
Helia Scheppa/JC Imagem
"Atlântico" sai nesta quinta (26) pelo selo Mariposa Cartonera. O lançamento é às 20h, no Café Castro Alves - FOTO: Helia Scheppa/JC Imagem
Leitura:

O caminho percorrido é grande, as margens, bem como as histórias por elas delimitadas, são muitas. Nos seus 420 quilômetros, do Agreste até desaguar no mar, o Rio Capibaribe reparte o Recife em ilhas, em gentes e realidades opostas. Atlântico, novo conto do escritor Ronaldo Correia de Brito, a ser lançado nesta quinta (26), às 20h, na Galeria Café Castro Alves, pela Editora Mariposa Cartonera, é um passeio “ousado” pelas águas que, um dia poetizadas, revelam também nossas mazelas, hipocrisias, tristezas e silêncios.

“A ousadia é minha marca. Continuo ousando, correndo o risco sempre. Nunca estou sossegado”, se antecipa Ronaldo. “Esta é uma pequena novela que faz parte do meu novo livro de contos, que deve sair pela Alfaguara, em setembro.” No novo texto, cujos grandes personagens são o rio e o Recife, o escritor faz na jovem Cecília o enlace de histórias sobre a violência contra mulheres. De abuso sexual a coisificação da figura feminina, Ronaldo Correia de Brito constrói sua narrativa perspicaz, não linear e de um aguçado olhar crítico e preciso sobre a realidade de um sociedade que, embora ostente a modernidade como sua marca, ainda vive fincada na lama do machismo e da segregação social.

Cecília, 17 anos, é uma jovem rebelde, que tenta investigar e compreender o drama de sua família: órfã de mãe e sem conhecer seu pai, mora com a avó carrasca, Júlia, e duas irmãs. Não sabe de onde veio, nem o que guarda em lembranças intocáveis os porta-retratos de sua casa. E a partir da história de Cecilia, Ronaldo conta a história de Samantha (garota de 13 anos violentada pelo cineasta Roman Polanski), de Júlia e de duas garotas assassinadas na Praia de Guadalupe (Litoral Sul de Pernambuco) – um crime que, mesmo depois de uma década, não se sabe quem o cometeu. 

“Esses assassinatos de mulheres que acontecem no Brasil, no mundo, Nordeste, em Pernambuco e no Recife, todos eles pesam muito sobre mim”, conta Ronaldo. “Talvez porque eu venho de uma região na qual as mulheres eram botadas à parte, e as com quem eu convivi – minha mãe, minha avó, minha esposa e minha filha – são muito independentes, fortes, de caráter, altamente emancipadas, eu diria que quase revolucionárias”, explica.

Atlântico discute as disparidades sociais. E Ronaldo faz isso como um cortejo sociológico nas ruas dos bairros retalhados pelo Capibaribe. O rio, na obra, é o delimitador de diferenças de casta e sexo. De realidade. Num lado das turvas águas está uma sociedade marginalizada, pobre; do outro lado, uma riqueza em crise, uma classe rica mofada, cega, que teima em resistir. 

E esse rio cortante, porém, vai além da figura literal. Extrapola as águas e chega ao massapê. Na Zona da Mata, Ronaldo refaz o rio, desta vez nos canaviais, para encerrar sua narrativa de maneira impactante e, novamente, questionadora.  

O lançamento de Atlântico marca a abertura da coleção 2015 da Mariposa Cartonera, que este ano publicará outros nove autores, todos com design gráfico assinado Patrícia Cruz Lima. O livro de Ronaldo Correia de Brito sai numa edição especial, de 50 exemplares, numerados e assinados. Por conta da procura pelo título, na noite do lançamento, a editora oferecerá já uma segunda edição, também numerada e assinada. 

Últimas notícias