Uma notícia preocupante para a literatura e para a educação brasileira veio na edição mais recente da pesquisa Fecomércio RJ/Ipsos. O trabalho, feito para entender os hábitos culturais da população, apontou para uma queda no número de pessoas que declaram ter hábito de ler – o número era de 35% antes e passou para cerca de 30%. Apesar disso, dentro do universo da pesquisa (que não considera que ver TV é um hábito cultural, por exemplo), os livros continuam sendo a atividade mais popular no Brasil.
O cenário da pesquisa reitera trabalhos anteriores, especialmente a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. Feita em 2011, ela aponta que o número de pessoas que gostam de ler no tempo livre também diminuiu de 36% em 2007 para 28% em 2011.
O cenário preocupa vários setores da cadeia do livro. Para Wellington de Melo, escritor, professor e coordenador de Literatura na Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), o momento principal para a formação de leitores é a escola, tanto na rede pública como na privada. A questão é ampliar essa formação para além de aulas de disciplinas específicas.
Não se trata apenas de vender ou distribuir mais obras literárias. “O desafio passa pela construção do hábito de leitura, não é simplesmente ampliar o consumo de livros. Não se pode atrelar a compra de livros diretamente ao hábito de ler. Talvez mais importante seja investir na leitura dentro de escolas e bibliotecas, transformar esses espaços para serem mais do que ambientes de estudo”, destaca o gestor. Ele lembra também que, quando os pais não leem, os filhos costumam repetir o hábito.
Wellington ainda ressalta que o levantamento do Pró-Livro revelou que, apesar da queda no Brasil, o número de leitores cresceu no Nordeste. “Acredito que isso tem relação com o aumento de crianças na escola”, analisa. “Mas temos que trabalhar muito por políticas públicas. O Plano Nacional da Leitura busca que as bibliotecas se tornem espaços amplos, que sirvam para mais do que trabalhos escolares e concursos públicos.”
O presidente da Associação do Nordeste das Distribuidoras e Editoras de Livros (Andelivros), José Alventino, explica que, para os livreiros, o ano de 2014 foi positivo. A queda na leitura, para ele, pode ser explicada em parte pelo maior uso de dispositivos digitais. O setor vai bem, segundo ele, porque não fica parado esperando o público: os livreiros costumam ir de porta em porta oferecendo obras para a população. “Existem muitos locais sem livrarias no Brasil. As feiras de livros e os vendedores de porta em porta tentam superar esse gargalo”, comenta.