Lançamento

Karina Buhr autografa "Desperdiçando rima" no Recife

Cantora e atriz, a baiana criada no Recife e radicada em São Paulo faz da liberdade o caminho dos seus versos

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 08/05/2015 às 6:50
 José de Holanda/Divulgação
Cantora e atriz, a baiana criada no Recife e radicada em São Paulo faz da liberdade o caminho dos seus versos - FOTO: José de Holanda/Divulgação
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Quem é a Karina escritora? “Eu”. E a Karina leitora? “Eu (risos)”. Quem é Karina Buhr a gente já sabe – ou parece saber. Afinal, ela não gosta de definições – deu a mesma reposta para as perguntas acima – e é ajudada pela vida neste quesito: cantora, atriz e, agora, escritora. 

Baiana criada no Recife e radicada em São Paulo, multifacetada, ela acaba de lançar seu primeiro livro, e faz uma noite de autógrafos hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega. 

Desperdiçando rima (Rocco. R$ 24,50) é uma reunião de versos livres e frases de aguçada ironia – ao estilo Karina de ser. Ela resume, expandindo, a obra: “Sortimentos variados, cheiros azedos, gostinho doce ou mais ou menos”.

O livro é misto de cartas, poemas e contos, em elucubrações e desabafos. Traz, em 192 páginas, textos inéditos e outros adaptados dos escritos dela em colunas em revistas e blogs, além de uma música, Falta de sorte, do disco Vou voltar andando – do seu tempo do Cumadre Fulozinha. Tudo ilustrado por quem? Por ela.

Quem lê esta Karina autora, reencontra e descobre a Karina híbrida: ríspida e doce; cética e crente; do mundo e da família. “Tem umas coisas diversas, coisas que, a princípio, não são músicas. Mas, depois de começado o samba, que elas virem o que quiserem, ou fiquem quietas aqui, esperando algum suspiro de alguém que passe por elas. (...) Tema é qualquer coisa que respira ou que, quando vê, suspira”, escreve, em rimas, a cantora-atriz-autora no prefácio. 

Se há a Karina atriz? Aquela Karina Buhr, que saiu do Recife em 2003 para mergulhar na antropofagia do Teatro Oficina, de José Celso Martinez? “Não sei dizer sobre de que maneira o Oficina marca minha escrita, ou se marca”, diz em entrevista. Despreocupada e despretensiosa diante da sua arte (para ela, a liberdade é quem pauta seu trabalho), fez do seu livro uma obra criada com mão e coração libertos. 

“As palavras se disfarçam como num bloco de Carnaval: pra fazer a festa, beijar desconhecidos e, vez ou outra, tocar terror”, escreveu, na contracapa do livro, o ator e escritor Gregório Duvivier. Para Karina, o que está em foco é “ a música pela música, a escrita pela escrita”. 

Em Desperdiçando rima, a veia questionadora da artista faz dos versos espinhos para falar de insatisfações. “Acho que o Brasil de hoje é muito melhor que o de antes. Tem muita coisa errada ainda aqui e nas sociedades do mundo todo”, conta ela, que dedica um dos textos, Estelita, ao movimento que questiona as ocupações dos espaços do Recife. 

Já na sua estreia como escritora, a baiana foi convidada para participar da Flip, a Festa Literária de Paraty, no Rio de Janeiro. “Achei maravilhoso, fiquei bem feliz”, confessa. “Quero continuar escrevendo, já que sempre fiz isso, mas agora com essa possibilidade de publicar fora do contexto de músicas. E quero que o que eu escreva se espalhe por aí – é boa a sensação de ver isso circulando e chegando nas pessoas, tocando cada um de maneiras diferentes.” 

Longe de rótulos, ela fala sobre suas ideias a respeito de muitos assuntos. “Sou uma pessoa feminista e doida pra que as coisas melhorem pra não precisar mais ser – porque é bem estranho isso de se precisar se definir como alguma coisa, apenas por querer ser tratada com dignidade, ter os mesmos leques de opções, a mesma liberdade e o mesmo respeito profissional, social desfrutado pelos homens.”

Entre os textos, ainda há espaço para as oferendas a Iemanjá, de quem ela é devota; e também uma poesia dedicada ao fotógrafo Alexandre Severo, seu amigo, que morreu em agosto do ano passado, em acidente de avião: No dia seguinte da morte, sobre a partida e o vazio que ficam – em seguida e para sempre. 

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