“Eu não sei como eu consegui ser escritor. Eu não estudei. Isso eu já lhe contei, que só tinha até o terceiro ano do primário. Estudei sozinho. E não sei como me tornei um escritor”. É com essa confissão que começa o documentário de curta-metragem LEMOS, Gilvan, dirigido pelas escritoras Cida Pedrosa e Mariane Bigio. O filme, criado pelo Laboratório de Autoria Ascenso Ferreira, é exibido pela primeira vez nesta sexta (5/6) às 19h30, na Livraria Cultura do Paço Alfândega. A entrada é gratuita.
Além do documentário, o evento conta com uma mesa de conversa entre Gilvan, Mariane e Cida. Em LEMOS, Gilvan, o escritor, nascido em São Bento do Una em 1928, é apresentado em suas memórias e através do depoimento de alguns amigos. O autor de obras como Emissários do diabo e O anjo do quarto dia recebe uma homenagem singela e poderosa na obra, – ele é um dos principais nomes da prosa pernambucana, injustamente esquecido por seu jeito reservado.
No vídeo de poucos mais de 19 minutos, Gilvan fala de histórias já conhecidas – a vinda ao Recife e a publicação na editora Civilização Brasileira, na década de 1960, ajudado pelo amigo Osman Lins – e outras mais íntimas e raras. O poeta Pedro Américo de Farias revela que já ouviu dele que hoje, ao ler seu próprios livros, ele mesmo se surpreende: “São muito bons. Eu penso até que não fui eu que escrevi”. O filme ainda conta com depoimentos da sobrinha do autor, Lívia Valença, e do amigo Nivaldo Mulatinho.
Para a câmera, Gilvan ainda mostra os gibis que fazia sozinho quando garoto, em São Bento do Una, fortemente influenciado por heróis americanos. Uma parte do documentário foi gravada na própria cidade natal do autor – é possível ver ele lembrando a sua infância e notando as mudanças bruscas do local, onde jogava bola e frequentava clubes para dançar e beber. É lá que ele quer ser enterrado, avisa, ao lado do túmulo dos pais.
Da amizade com Osman, além do contato com a editora carioca, Gilvan lembra que recebeu um conselho: “Saia daí, venha embora (para o Rio de Janeiro), porque aí você vai morrer anônimo”. O escritor avalia hoje a sugestão que recebeu. “Duas eu vezes eu tive de ir para o Rio, e perdi. Se tivesse ido, era outra coisa. Aqui, a gente não vale nada”, lamenta.