Literatura

Escritores lamentam a morte de Gilvan Lemos

Corpo do escritor, que morreu aos 87 anos, vai ser sepultado em sua cidade natal neste domingo

Do JC Online
Cadastrado por
Do JC Online
Publicado em 02/08/2015 às 13:16
JC Imagem
Corpo do escritor, que morreu aos 87 anos, vai ser sepultado em sua cidade natal neste domingo - FOTO: JC Imagem
Leitura:

 

A Câmara de Vereadores de São Bento do Una presta, neste domingo às 15h, a última homenagem a um dos seus mais ilustres artistas - o romancista e contista Gilvan Lemos, 87 anos, encontrado morto em seu apartamento na Boa Vista, Recife, neste sábado. O corpo do escritor está sendo velado desde o início desta tarde e será saudado pelo presidente do legislativo municipal, Bruno Braga.

Escritores e amigos de Gilvan Lemos comentaram a morte do autor de A Noite dos Abraçados (1975), Os Pardais estão Voltando (1983), Emissários do Diabo, O Anjo do Quarto Dia, Enquanto o Rio Dorme e Morcego Cego (1998). Confira:

 

"Fico arrepiado quando me lembro da morte de Gilvan. Encarnou a figura do escritor sério e competente, entregue à obra e à paixão pela leitura. Grande amigo e grande companheiro. A paz de Jesus fique com você, amigo....
Raimundo Carrero, escritor, da APL

Gilvan Lemos era dono de um dos melhores textos que já li. O comparo a Ivan Lessa, pelo domínio da língua e riqueza do vocabulário. Alguns críticos de sua obra alegam que faltava a ela mais crueza, mais sexo, que seu romance era puritano. Não e bem assim  Gilvan era ateu, frequentou a boemia nos 50. Mas seu temperamento era contido. Embora bem humorado e espirituoso, ele, quando frequentava nossa turma de mesa de bar, ainda na Sete de Setembro, era mais de ouvir que de falar. Mas contava ótimas historias, muitas delas de seu tempo de são Bento do Una.  Gilvan aos poucos foi deixando de chegar no bar. Seus livros rareavam mas ele certamente não deixou de criar. Acham que se desiludiu com a literatura. Se desilusão houve foi com o mercado. Com o escritor precisar se promover pra que se interessem pela sua obra. Gilvan tenho impressão escrevia pra si mesmo, como todo grande escritor. Sucesso, grandes vendagens, são consequências. Pra mim, era o maior ficcionista pernambucano vivo e um dos maiores do Brasil.
José Teles, jornalista, cronista, pesquisador, crítico de música, autor de Do Frevo ao Manguebeat e O Frevo Gravado

Eu li Gilvan. Eu e Cida Pedrosa. Lemos Gilvan Lemos. Não falo da obra, de qualidade indiscutível. Mas ele, a pessoa dele. Através das lentes, com o documentário como desculpa. Vimos tudo de perto, de dentro. Entramos em sua casa e em sua rotina. Em sua solidão voluntária. Ouvimos suas histórias, e nos sentimos lisonjeadas por termos registrado parte delas pra que outras pessoas conheçam. Mas ficamos, só pra gente que estava no set, com as entrelinhas dessas histórias. Com os suspiros e comentários que Gilvan só se permitiu fazer quando a câmera desligava. Agora fica uma saudade apertada, porém aliviada em saber que ele foi homenageado em vida. Salve Gilvan Lemos.
Mariane Bigio, poeta declamaradora, coautora do documentário Lemos, Gilvan, com Cida Pedrosa

Muito a lamentar pelo falecimento de Gilvan Lemos. Eu o chamava de Seu Gilvan. Pelo respeito que tinha e tenho. Um grande ficcionista, um dos maiores do Brasil. Digo sem medo de errar. Ele tinha uma força narrativa pouco comum, só encontrada naqueles que dominam com tranquilidade e segurança a arte de escrever. Seu Gilvan, pelo conhecimento literário e pelo comportamento recluso, era um refinado homem popular. Sim, pois ele também se misturava ao cotidiano das ruas e à natureza interiorana de sua alma. Com mesma aparente simplicidade com que escrevia seus romances e contos. Seu Gilvan, presente!
Cícero Belmar, jornalista, escritor, autor de Umbilina e Sua Grande Rival

"Era um grande amigo, romancista, um dos últimos grandes da geração dele ao lado de Gilvan Lemos, Hermilo Borba Filho e João Cabral de Melo Neto. Gosto muito da sua obra “O Anjo do Quarto Dia” que é muito marcado por nossa região, de uma inventividade incrível, mágico. Lindo! Levei esse livro para Jorge Coli que escrevia artigos no jornal francês Le Monde e ele fez menções belíssimas sobre o trabalho dele e o comparou com Guimarães Rosa. Também levei essa obra para a editora Anna Marrie Metelieé para publicar na França, mas infelizmente, na época, já tinha muita gente na fila de edição. Eu tinha uma grande amizade com Gilvan. Foi meu aluno de francês e ele ficava caladinho no canto da sala. Uma vez, entregou seu livro "O Emissário do Diabo", autografado com os seguintes dizeres: "Para Luzilá ver que falo melhor em português do que em Francês".
Luzilá Gonçalves, escritora, membro da APL.

 "Minha relação com ele era através dos livros. Com Gilvan se vai um dos maiores ficcionistas do país. Para mim, uma das obras  mais importantes dele é o “Emissário do Diabio” e o “Espaço Terrestre”, um livro muito bonito com um clima de surpresa e mistério".
Ângelo Monteiro, escritor, membro da APL.

Gilvan Lemos  é  um exemplo de vocação e permanência pela imensa história de sua vida e pelos valores de sua obra reconhecida internacionalmente."
Lourdes Nicácio, escritora, membro da Academia Recifense de Letras


 

 

Últimas notícias