“Esse é o melhor momento criativo do mercado de quadrinhos.” O veredicto vem da boca de um dos mais respeitados nomes da crítica e da editoração de HQs no Brasil, Sidney Gusman. Nome que comanda os projetos editoriais da Mauricio de Sousa Produções (MSP), ele é um dos convidados da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, que dá início a seus debates na sexta (14/8), a partir das 19h, no Sesc Santa Rita.
Na mesa, ele conversa com o jornalista André Dib sobre um tema amplo, Literatura e Quadrinhos – um debate recorrente para quem acompanha as narrativas gráficas desde os anos 1990 e fundou o portal de críticas Universo HQ. Hoje, com a ascensão das adaptações literárias, a linguagem muitas vezes é vista como uma ferramenta educacional. “Se os quadrinhos substituem o original? Para mim, não. Mas é sensacional que exista. É uma amostra de como as duas mídias interagem. Ao mesmo tempo, ainda se ouve que HQs servem para separar os jovens da leitura. Isso é pura bobagem”, comenta Sidão, como é conhecido.
Para ele, o momento é especialmente bom do ponto de vista da pluralidade de criações. “Começaram a cair algumas barreiras. Pessoas que pararam de ler HQs na infância, antigos fãs da Turma da Mônica, passaram a retomar o interesse, sem buscar histórias de super-heróis ou mangás. Descobriram que existiam formatos e estilos diferentes. Isso gerou uma efervescência de autores novos”, opina.
De fato, ao mirar nesse nicho, antes repleto de obras independentes e traduções de boas narrativas estrangeiras, ele conseguiu unir nomes da nova geração, como Shiko, Danilo Beyruth e Vitor e Lu Caffagi, para darem roupagens adultas para personagens clássicos como Piteco, Astronauta e a Turma da Mônica. Tudo começou com histórias curtas na coletânea MSP+50, mas logo surgiu espaço para narrativas longas e autorais.
O cenário é bom não só dentro da coleção. “Nunca se produziu tantos quadrinhos legais no Brasil. Quando comecei a escrever críticas de HQs, as pessoas diziam que não existiam bons roteiristas no país. Essa geração atual bebe de fontes diferentes, é incrível”, destaca Sidão.
A boa circulação e repercussão da coleção ajudou a levar a MSP para outros públicos, além das crianças e dos adolescentes, como a Turma da Mônica Jovem. “Mauricio tinha uma posição muito confortável no mercado. As pessoas não sabem, mas ele é um cara que está sempre por dentro de novos autores. Ele sabia que o projeto ia resgatar um outro público, trazer de volta antigo fãs das histórias infantis”, comenta.
O ano ainda deve ser cheio de lançamentos na MSP. Lições, de Vitor e Lu Caffagi, saiu recentemente, mas há vários títulos por vir. Ontem, Sidney revelou na internet algumas páginas de Turma da Mata – Muralha, feito por Artur Fujita, Roger Cruz e Davi Calil. Neste ano, ainda sai um projeto com histórias clássicas, originalmente escritas e desenhadas por Mauricio, que vão ganhar versões feitas por outros ilustradores, em formato de livro infantil – o primeiro é Mônica Daltônica, recriada por Odilon Moraes, que sai neste mês. “Para celebrar os 80 anos de Mauricio, ainda vamos pegar 25 crônicas que ele fez sobre a própria vida e convidar quadrinistas para desenhá-las”, anuncia.
Confira a programação da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea:
DIA 14 (sexta-feira)
19h - Literatura e Quadrinhos – André Dib conversa com Sidney Gusman
20h - Adaptações de obras literárias para HQs – Uma Conversa com Lailson de Holanda e Rodrigo Rosa. Escritor Provocador: Thiago Corrêa.
Local: Sesc Santa Rita
DIA 15 (sábado)
17h - Mulheres nos quadrinhos – Uma conversa com Adriana Melo e Ana Recalde. Escritora Provocadora: Danielle Romani.
18h30 - As histórias em quadrinhos na formação dos leitores: o olhar do escritor, do quadrinista e do leitor – Uma conversa com Cida Pedrosa, Gustavo Duarte e Cidclay Laurentino. Escritor Provocador: Valdir Oliveira.
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
DIA 16 (domingo)
17h - O romance gráfico contemporâneo – Uma conversa com Christiano Mascaro, Rafael Coutinho e Shiko. Escritor provocador: Inácio França.
18h30 - Apresentação e lançamento da residência Quadrinhos para Ascenso com coordenação de João Lin.
Local: Teatro Hermilo Borba Filho