ENTREVISTA

Em livro, Susan Sontag fala sobre seu pensamento, câncer, sexualidade, drogas e feminismo

Conversa com jornalista Jonathan Cott, da revista Rolling Stone, é reunida em livro, lançado no Brasil pela Autêncita

Diogo Guedes
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Publicado em 18/08/2015 às 5:47
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Conversa com jornalista Jonathan Cott, da revista Rolling Stone, é reunida em livro, lançado no Brasil pela Autêncita - FOTO: Reprodução
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No intervalo entre os encontros com o jornalista Jonathan Cott, que a entrevistava para a Rolling Stone, a escritora e crítica americana Susan Sontag avisou: “Precisamos nos ver logo porque eu posso mudar demais”. Essa conversa antológica, publicada parcialmente em 1979, tornou-se o livro Susan Sontag: Entrevista Completa para a revista Rolling Stone (Autêntica).

A obra mostra a firmeza e a multiplicidade da autora de títulos como Sobre a Fotografia e Contra a Interpretação, que escrevia, segundo ela mesmo, para poder abandonar um pensamento e passar para o outro. Realizada em 1978, a entrevista tem como um dos temas principais o câncer que acometeu Susan – sobre isso, ela tinha feito Doença Como Metáfora. “Você está lá, no hospital, pensando que vai morrer, e não pensar sobre isso teria exigido de mim um desprendimento enorme”, conta.

Drogas, feminismo, fotografias, ficção e sexualidade são temas importantes da conversa, que tem um duplo valor: sim, tateia a raiz do pensamento da autora, mas também revela parte da sua personalidade pública. Lá, ela comenta a sua forma não linear de pensar, por exemplo, em que “um argumento, para mim, se parece muito mais com os raios de uma roda do que com os elos de uma corrente”. “Não consigo conceber um pensamento que não tenha metáforas implícitas, mas o fato de tê-las revela seus limites”, também revela.

Para quem é fascinado pelo pensamento de Sontag, é uma obra imperdível. É possível vê-la questionar a existência de um forma feminina de escrever – um tema debatido ainda hoje. “Sinto uma lealdade intensa para com as mulheres, mas ela não se estende ao ponto de dar minha obra apenas para revistas feministas porque também sinto uma lealdade intensa para com a cultura ocidental”, explica.

Em outra passagem, mostra-se surpresa com a tendência da época de questionar o modernismo - alguns, como Roland Barthes, afirmando até uma superficialidade dos seus diluidores -, em uma tendência que para ela trazia obras que abusavam do "solipsismo, que é a grande tentação da sensibilidade moderna - pensar que está tudo na sua cabeça". "Eu quero ir muito contra essa tendência. Não usando palavras como modernismo ou vanguardismo - essas palavras estão esgotadas e precisam ser aposentadas. Mas quando quero pensar sobre como escrever ficção, leio Laura Riding ou as primeiras histórias de Paul Goodman e fico espantada por entender como a obra moderna - a tentativa de encontrar novas formas - não é mais um projeto defendido", expõe.

“Ler é minha distração, meu consolo, meu pequeno suicídio", ainda afirma Sontag. A entrevista, em resumo, é um retrato intelectual direto de uma autora que sempre quis, como ela mesmo define, “ter diversas vidas”.

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