Há pouco mais de um ano, o Festival A Letra e a Voz, talvez o principal evento pernambucano sobre literatura contemporânea, encerrava sua programação de mesas. Trazia, ao longo de quatro dias, nomes nacionais e internacionais, como Rodrigo Fresán, Cristovão Tezza, Maria Valéria Rezende e Alberto Mussa e uma homenagem de Raimundo Carrero ao dramaturgo e escritor Ariano Suassuna. Um ano depois, retomando o autor paraibano como tema, o cenário é outro: o evento, de orçamento pequeno se comparado a outras áreas culturais, teve uma redução de dimensão e verba.
Segundo estimativa da própria prefeitura, a previsão é de um gasto de R$ 130 mil para realizar o evento, com uma diminuição de cerca de 35% no orçamento (e é bom lembrar que alguns pagamentos da edição anterior só foram feitos em maio de 2015). Os convidados são, em sua quase totalidade, artistas pernambucanos ou velhos conhecidos daqui, que tentar dar conta também da onipresença de Ariano nas mesas do evento.
Há grandes autores, artistas e pesquisadores na programação deste ano, mas o festival parece que deixou completamente de lado a sua tentativa de trazer as discussões mais vibrantes da literatura atual e nacional, o seu grande legado nos mais de dez anos de existência. Não é uma questão específica desta edição, mas parte de um processo mais longo de esvaziamento das ações literária municipais. A redução de orçamento, justificada pela crise, atinge uma linguagem que já estava prejudicada na Secretaria de Cultura desde antes de 2015: o Festival A Letra e a Voz já era a ação solitária de literatura na pasta, que não faz novas edições dos seus prêmios literários, abandonou a revista Eita! e nem faz novas edições de programas gerais como SIC. A crise amplia os efeitos disso, mas as atividades para os livros, a literatura e os leitores estavam esvaziadas desde antes.