ESCRITA

Pesquisador lança livro sobre poesia de Jomard Muniz de Britto

Moisés Monteiro de Melo Neto fez dotorado sobre a obra do pernambucano e transformou pesquisa em livro

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 26/09/2015 às 5:47
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Moisés Monteiro de Melo Neto fez dotorado sobre a obra do pernambucano e transformou pesquisa em livro - FOTO: Divulgação
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Ao sair de uma aula de Ciências Sociais no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE no início da década de 1980, o então estudante Moisés Monteiro de Melo Neto encontrou no Centro de Artes e Comunicação um professor lançando um livro chamado Terceira Aquarela do Brasil. Desde aquele momento, Moisés se surpreendeu com a atitude do autor – uma pessoa antes de tudo crítica, mas que não abria mão do lúdico e do afetivo nos diálogos, nos textos e na arte. Era o seu primeiro contato com o escritor, cineasta, pensador, crítico cultural, performer poético, enfim, com o infinito Jomard Muniz de Britto.

Muito tempo depois, o fascínio que os textos e a figura de Jomard exerceram sobre o estudante Moisés viraram o ponto de partida para uma pesquisa de doutorado sobre a obra em versos do autor. O trabalho, orientado pela poeta e professora Lucila Nogueira, é publicado agora em livro, no volume intitulado Os Abismos da Poeticidades em Jomard Muniz de Britto: Dos Escrevivendo aos Atentados Poéticos (Sesc). DOmingo (27), a partir das 17h30, Moisés apresenta a obra ao público no Projeto Aldeia Yapoatan, na Jeimes Recepções, em Candeias.

A obra faz uma justiça com a fundamental e ainda pouco estudada obra poética de Jomard, analisando-a com profundidade e tentando dar conta da multiplicidade de facetas e referências que a compõem. Moisés divide a produção do autor, distribuída em sete livros e incontáveis atentados poéticos, versos que Jomard imprime e distribui pela rua e pelos e-mail: os anos 1970-80, a década de 1990 e o século 21.

“Jomard tem esse método da pedagogia, da discussão política, da poesia. A arte, para ele, é de uma só vez combativa e divertida. Ele é uma figura icônica anti-icônica”, descreve o pesquisador. Nas palavras de Anco Márcio Tenório, citado pelo próprio autor, ele é uma “espécie de pêndulo”, um “oxigênio necessário” para a cidade, que se desequilibra e reequilibra a partir de outras leituras e possibilidades. “Ele também sabe ser uma pessoa rígida, que questiona. Mas até na discussão ele gera afetos, amolece o terreno e é flexível”, ressalta Moisés.

“A arte dele é feita para mudar a cabeça das pessoas, mas sem destruir o que ela já tem ali dentro. É algo que ele traz da pedagogia de Paulo Freire, de dialogar através dos afetos que as pessoas já têm. Assim, ele consegue catalisar muita coisa”, explica o autor. Segundo Moisés, foi preciso deixar esse fascínio pela figura e pela obra de Jomard de lado para poder analisá-lo ao longo de quase 400 páginas. Ali, ele mostra a continuidade e descontinuidade das obras do diretor e poeta, além de estabelecer pontos de contato de discordância dele com vários filósofos e pensadores, especialmente Roland Barthes.

Além disso, ao longo das mais de quatro décadas acompanhadas no trabalho, Moisés vê a presença da Tropicália, do desbunde e do pensando de Paulo Freire na poesia de Jomard, sempre com um caráter experimental, inquieto. “Os atentados são um trabalho em progresso, uma forma de falar com as massas e fugir do meio acadêmico. Como o nome deles indica, tentam solapar o que é rígido na nossa cultura”, afirma.

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