CROWDFUNDING

Autores pernambucanos recorrem a financiamento coletivo e pré-venda para publicação de livros

Samarone Lima, Chico Ludermir e Clécio Rimas criaram campanhas para garantirem a publicação impressa de seus trabalhos

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 28/10/2015 às 6:45
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Samarone Lima, Chico Ludermir e Clécio Rimas criaram campanhas para garantirem a publicação impressa de seus trabalhos - FOTO: JC Imagem
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Ver cartazes com pedidos de intervenção militar em meio às passeatas contra a corrupção este ano impressionou o jornalista e poeta Samarone Lima. O incômodo reacendeu o desejo já antigo de voltar a trabalhar com a história de Zé, militante assassinado no Recife pelo regime militar em 1978, contada no seu primeiro livro. Disposto a fazer novas entrevistas e pesquisar nos documentos da Comissão da Verdade, o autor decidiu criar uma campanha de financiamento no Catarse, que entra no ar até sexta, para possibilitar a nova edição ampliada de Zé – Uma História da Ditadura, há muito fora de catálogo.

O caminho é semelhante ao de outros autores pernambucanos: criar crowdfundings (financiamentos coletivos) ou pré-vendas para garantir a edição das obras em meio aos altos custos de impressão. O poeta Clécio Rimas, por exemplo, criou também no Catarse um projeto para possibilitar a publicação do livro Um Mote de Glosas - Repentes Diversos (catarse.me/cleciorimas), com as glosas que tem criado nos últimos anos – mais de R$ 2 mil reais dos R$ 6 mil desejados já foram arrecadados.

Outro caso é do fotógrafo, artista visual e escritor Chico Ludermir, que pesquisou durante dois anos a vida e o cotidiano de mulheres transexuais e travestis, com entrevistas e fotografias. Além da exposição Mulheres: o Nascer é Comprido, que ficou em cartaz na Fundação Joaquim Nabuco, o cuidado de ouvir essas histórias gerou o livro A História Incompleta de Brenda e de Outras Mulheres, em que ele relata a vida, os desejos e as dores de cada uma delas. Previsto para dia 17 de março de 2016, com edição da Confraria do Vento, está em pré-venda promocional por R$ 55 no site ahistoriaincompleta.com.br.

“Eu tinha interesse no âmbito coletivo dessas histórias, da estrutura ao redor da travestilidade, que são os preconceitos e os desejos em comum, mas também havia a questão da universalidade desses relatos, de levar até as pessoas um exercício de alteridade. E, por fim, queria ainda observar a individualidade de cada um delas, porque cada pessoa e cada vida é única e original”, conta o autor.

Mesmo em coedição com a Confraria do Vento, a obra precisou ser bancada parcialmente por Chico – daí a ideia de fazer a pré-venda. “É um risco, não é algo que é fácil vender na internet. Os projetos ainda precisam de uma legitimação ou de divulgação para andarem mais. Essa é uma obra importante, que pode receber esse apoio porque faz parte da luta de uma militância”, comenta Chico. Além do livro mais barato, os compradores levam dez postais com fotos de Brenda, Christiane, Luciana, Deusa, Luana, Rayanne, Francine, Mariana, Maria Clara e Wanessa.

No caso do projeto Zé – Uma História da Ditadura, Samarone, além de tentar bancar parte da impressão, busca garantir o financiamento para viagens e dedicação exclusiva à reportagem – ele pleiteia R$ 25 mil para garantir todas as etapas. “Zé começou como trabalho de conclusão de curso que queria investigar o assassinato desse militante em 1973, supostamente em um tiroteio na Avenida Caxangá. Com a pesquisa, consegui encontrar pessoas que o viram na prisão quando ele já estava prestes a morrer por conta da tortura. Fui me aprofundando na história, que virou uma biografia de Zé, uma visão do cotidiano de alguém que combatia a ditadura militar com um filho adoentado e sem dinheiro para comida”, diz.

Além disso, a reescrita do livro vai contar com novas entrevistas e, principalmente, com os resultados criados pelas Comissões da Verdade em todo o Brasil. “Quis experimentar o financiamento porque é algo novo. Nunca inseri projetos no Funcultura ou em leis de incentivo porque você sempre precisa lidar com a burocracia”, confessa Samarone. Ele anuncia que a história vai virar documentário, com direção do mineiro Rafael Conde. “O momento é bom: as pessoas precisam saber o que acontecia na ditadura”, ressalta.

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