CRÍTICA

Paula Fábrio lança romance sobre viagem, literatura e morte

Vencedora do Prêmio São Paulo com sua estréia, a escritor paulista faz uma bela narrativa, sensível e reflexiva ao mesmo tempo

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 15/12/2015 às 5:22
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Vencedora do Prêmio São Paulo com sua estréia, a escritor paulista faz uma bela narrativa, sensível e reflexiva ao mesmo tempo - FOTO: Divulgação
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“Um livro de viagens onde o livro é a viagem”, já propôs o poeta Haroldo de Campos em Galáxias. Viajar é um tema tão literário que é possível imaginar que as narrativas surgiram apenas para fingir que são viagens – ou até o contrário: acreditar que as viagens são somente uma tentativa de substituir o belo gesto de contar histórias. Afinal, são duas das mais celebradas formas de se colocar, ao mesmo tempo, em movimento e em autoescrutínio, de tentar se ver em novas luzes.

A escrita Paula Fábrio, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura com o seu romance de estreia, Desnorteio, lançou agora pela Editora Foz a sua segunda narrativa longa, Um Dia Toparei Comigo. A frase, retirada de um poema de Mário de Andrade, revela já a expectativa de uma travessia, de uma passagem por algo transformador. Com mais apuro e cuidado do que com exagero e clichês, a autora nos leva por esse caminho.

Narrado em primeira pessoa, o volume traz uma mulher que viaja com a namorada, Virgínia, depois de as duas enfrentarem 11 meses de trabalhos e estudos. Sem muitas perspectivas, elas vão encontrar uma amiga em Madrid, Consuelo. Sutilmente, Paula faz dessa viagem uma rememoração de outras viagens, da infância e dos traumas recentes. Como toda travessia, essa termina ajudando a entender o que permanece fundamental quando a gente se desloca da rotina e dos hábitos.

Ao encontrar, em Sevilha, com o pai de um amigo que está sofrendo com um câncer terminal, a narradora lembra de quando teve que enfrentar a morte do seu pai, também vítima de uma doença crônica. Logo no início, a narradora diz: “Buscava me desvencilhar da memória, do horror de dizer ao médico: eu bancarei a morte de meu pai. Viajar é uma forma de sonhar. Também é um modo de fugir”. Nesse romance ao mesmo tempo sensível e reflexivo, Paula constrói uma narrativa sobre passar a vida e a morte a limpo – um exercício necessário para encarar, finalmente, o gesto belo e surreal de tentar esbarrar consigo mesmo.

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