O poema Quadrilhas, criado pela poeta e professora da UFBA Livia Natália e publicado em outdoors nas ruas de Itabuna, na Bahia, tem sido alvo de críticas e até de um pedido judicial de remoção pela Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia (Aspra).
A peça, parte do projeto Poesia nas Ruas, faz uma releitura do poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, contando uma curta história de amor e fazendo uma crítica ao alto índice de assassinato de homens e mulheres negros no Brasil e na Bahia. Em nota no seu site, a Aspra afirma que o outdoor “incita a discriminação, intolerância e racismo contra os Policiais Militares do Estado da Bahia”. Segundo o texto, a associação vai entrar com um mandado de segurança pedido “retratação e retirada imediata das peças”.
No seu Facebook, em uma nota, Livia exigiu respeito para ela e sua obra. “Desde a década de oitenta do século passado não há censura oficial neste País, portanto, tentar silenciar a minha voz é um ato ILEGAL, que atenta contra os direitos do cidadão”, escreveu. “Este poema apenas diz uma verdade que todos nós engolimos e sua ampla recepção apenas reforça a sua força e a força da literatura, numa sociedade tão desprovida de sensibilidade. Eu não quero temer a farda de homens e mulheres que aí estão para nos proteger, e os homens e mulheres negras, que são a maioria da população baiana e grande alvo das várias violências institucionalizadas, também não!”.
Leia o poema de Livia Natália:
Quadrilhas
Maria não amava João.
Apenas idolatrava seus pés escuros.
Quando João morreu,
assassinado pela PM,
Maria guardou todos os seus sapatos.
NOTA DE ESCURECIMENTO "Se Palmares não vive mais ...
Publicado por Livia Natália em Terça, 12 de janeiro de 2016