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Conto de Machado de Assis ganha ilustrações com ironia a Michel Temer

Em edição artesanal, a narrativa O Dicionário - sobre um déspota poeta - é lançada com tradução na França

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 18/10/2016 às 17:59
Wellington de Melo/Divulgação
Em edição artesanal, a narrativa O Dicionário - sobre um déspota poeta - é lançada com tradução na França - FOTO: Wellington de Melo/Divulgação
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Recém-alçado ao posto de rei, Bernardino decide, para conquistar uma mulher, apaixonada por um escritor, promover um concurso de poesia. Chama especialistas para ajudá-lo, mas o rival o vence. Muda as regras do concurso, proíbe determinado vocábulos, e ainda assim perde novamente. Resolve, então, recolher todos os dicionários disponíveis e inventar uma nova língua para ser imbatível. Termina, mesmo assim, derrotado.

O déspota criado por Machado de Assis no conto O Dicionário parece, como tantas coisas que ele criou, uma personagem atual da nossa política – e, afinal, foi transformado em um deles nas ilustrações do escritor e editor Wellington de Melo. A história criada no século 19 ganha uma edição artesanal, com capa de papelão, pela francesa Cosette Cartonera, de Alicia Cuerva, e pela pernambucana Mariposa Cartonera. O volume tem tradução do professor Saulo Neiva, que também assina um artigo sobre o conto e participa do lançamento hoje, em Paris, na França, no Festival da Incerteza da Biblioteca da Fundação Calouste Gulbekian.

“Não é apenas um conto, se você olhar bem. Ele tem tudo a ver com o momento atual, parece ter sido escrito ontem”, conta Wellington, que emprestou o rosto de Michel Temer para a figura do rei. “Machado, monarquista, podia até estar sugerindo que um rei vindo da multidão não daria certo, mas Bernardino é um amálgama de tudo de ruim que há na política do Brasil, um pouco de Cunha, de Temer, de Renan Calheiros.”

A ironia de mostrar Temer como um déspota pode parecer uma brincadeira pueril, mas Wellington explica: “É bom que pareça mesmo, porque são as crianças que dizem as grandes verdades”. Com o lançamento lá fora, a ideia é reverberar um pouco as críticas ao momento político atual brasileiro, como fez o escritor Ricardo Lísias em sua recente passagem pelos Estados Unidos.

A Cosette Cartonera também vai lançar no Festival da Incerteza a tradução para o francês de Alicia Cuerva para o livro O Caçador de Mariposas, de Wellington.

AQUARIUS

Entre os próximo lançamentos da Mariposa Cartonera, estão muitas obra que discutem o cenário social e político do Brasil de hoje, “mas sem serem panfletos”. 

Um conto do pernambucano José Luiz Passos, Marinheiro Só, vai ganhar uma edição artesanal. Além disso, o editor adianta que está concluindo a coletânea Aquarius, com contos de José Luiz Passos, Ricardo Lísias, Maria Valéria Rezende e Nivaldo Tenório, todos com uma personagem chamada Clara como a protagonista do filme de Kleber Mendonça Filho.

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