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Raimundo Carrero fala sobre novo romance na Semana do Livro

Leia um trecho da nova obra do autor pernambucano, Pérolas Porcas

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Publicado em 02/12/2016 às 7:58
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Leia um trecho da nova obra do autor pernambucano, Pérolas Porcas - FOTO: Igo Biona/JC Imagem
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“Doroteia gritou – o grito do pássaro ferido no voo. Os olhos doces e aflitos se encheram de lágrimas. Daí coloquei a palmatória na mesa. A professora liberou os meninos para o recreio, mas eles permaneceram quietos e silenciosos.” Prestes a completar 70 anos, o escritor pernambucano Raimundo Carrero prepara-se, como mostra o trecho acima, para se voltar para a infância. Seu novo romance, previsto para ser lançado em 2017, está ainda em fase de rascunho, mas já será o tema de uma mesa nesta sexta (2/12) na Semana do Livro de Pernambuco, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe).

O livro, que se chamará Pérolas Porcas, vai trazer a infância e o começo da adolescência de dois personagens. Um é a já citada Doroteia, menina de “não mais do que dez ou doze anos”. Seu companheiro de narrativa é Leo. “A história traz os dois meninos enfrentando as dificuldades da infância, a insinuância desse período, os problemas em todos os aspectos: os sociais, os escolares, os sexuais”, conta Carrero.

Na mesa, que começa às 17h30, o autor vai conversar sobre o romance com Schneider Carpeggiani e vai ler trechos do romance como o já citado aqui. “Serão duas ou três cenas fundamentais do romance, que ainda deve ser muito alterado. Quero lançá-lo depois de fevereiro do ano que vem, como uma forma de celebrar os meus 70 anos”, adianta. O romance vai ser editado pela Iluminuras.

LEIA TRECHO DE PÉROLAS PORCAS

A Luta do Tempo com a Manhã

"Doroteia gritou – o grito do pássaro ferido no voo. Os olhos doces e aflitos se encheram de lágrimas. Daí coloquei a palmatória na mesa. A professora liberou os meninos para o recreio, mas eles permaneceram quietos e silenciosos.

Menina, não mais do que dez ou doze anos, Doroteia olhava para os lados e para o teto, para mim e para os outros, dominando o choro no soluço, ninando a mão maltratada, possuída desta mágoa que só as mulheres conhecem no choro, menina que se descobre nua, purulenta de pecados, no meio da igreja, toda iluminada, a escutar gritos e insultos. Ventava e a manhã escurecia, escurecia e se iluminava, nessa luta permanente do tempo. Ela não queria se curvar à dor, e não queria, também, demonstrar desespero. Olhava-me e olhava-me, sorria e chorava. Chorava só lágrimas que desciam pelo rosto , mas os olhos permaneciam aflitos e doces de menina afetuosa e bela. Sem dúvida, não podia entender que o seu melhor amigo a espancasse com tanta dureza. Não me reconhecia, tenho certeza, nem poderia reconhecer o menino que tomava banho com ela nas tardes quentes de Arcassanta , quando também a levava para passear na Estação do Trem, entre os frutos do sexo e do amor, ou na cumplicidade do roubo de galinhas nos quintais."

OCUPAÇÕES

Mais cedo, às 16h, a Semana do Livro receberá um debate sobre as ocupações estudantis de escolas e universidades. Conversam sobre o tema, a partir das 16h, o jornalista e militante do Coque Resiste Chico Ludermir, as professoras da UFPE Ivana Fechine e Maria Eduard Mota e a integrante do Laboratório de Estudos em Sexualidade Humana Dandara Luísa Alves.

No Espaço Livro Aberto, paralelo à programação principal, ainda estão previstos dois eventos. A partir das 19h, a presidente da Câmara Cearense do Livro, Lucinda Marques, a editora da Cubzac, Deborah Echeverria e a editora da Confraria do Vento, Karla Melo, se encontram para debater o mercado literário nordestino. Por fim, às 20h, Maciel Salú e Isaar França se juntam para fazer uma intervenção musical e poética em homenagem a Ascenso Ferreira.Todas as atividades são gratuitas.

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