ADAPTAÇÃO

Livro de Raimundo Carrero vai ganhar leitura dramatizada

A História de Bernarda Soledade, primeira obra do autor, foi adaptada por Fabiana Pirro, Sílvia Goes e Ana Nogueira

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 07/05/2017 às 6:19
Roberta Guimarães/Divulgação
A História de Bernarda Soledade, primeira obra do autor, foi adaptada por Fabiana Pirro, Sílvia Goes e Ana Nogueira - FOTO: Roberta Guimarães/Divulgação
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Quando começou a escrever a novela A História de Bernarda Soledade – A Tigre do Sertão, Raimundo Carrero pensava estar diante de uma peça teatral. Na escrita, percebeu que tinha uma narrativa nas mãos, mas nunca deixou de ver na obra o potencial de estar no teatro ou no cinema. Na próxima quarta (10), às 20h, o desejo antigo dele vai ser realizado: a novela vai ganhar, pela primeira vez, uma versão cênica.

É uma leitura dramática, que acontecerá gratuitamente no Centro Cultural Raimundo Carrero, no Espinheiro. A apresentação faz parte do Circuito de Leituras Teatrais Dramatizadas da Literatura Pernambucana e é comandado por Fabiana Pirro, Sílvia Goes e Ana Nogueira, que interpretam as personagens principais da obra. O elenco ainda conta com outros três atores: Claudio Ferrário, Diógenes D. Lima e Edjalma Freitas.

Carrero sempre teve vontade de ver uma montagem com Fabiana como Bernarda Soledade. “Sempre tive uma grande admiração por ela e acho ela parecida com Bernarda, pela altura, pela postura e pela cor”, confessa o escritor. Na verdade, o projeto de construir uma leitura do romance começou a nascer há muito tempo, quando Ana Nogueira, que havia feito a oficina literária do escritor, recomendou a Fabiana o livro, ressaltando um possível semelhança com a personagem. Tempos depois, de um encontro com Carrero, Fabiana retomaria a ideia e convidaria Ana e outros colegas.

Já faz algum tempo que Fabiana se dedica a leituras dramatizadas. Trabalhou com textos de commedia dell’arte, do teatro do absurdo, do teatro pernambucano e, já em parceria com Silvia Goes, de Hilda Hilst. Com o convite de Raimundo Carrero, começa uma nova etapa, que vai se voltar a escritores pernambucanos. Joaquim Cardozo e Hermilo Borba Filho são os próximos.

BERNARDA SOLEDADE

Fabiana, Silvia e Ana trabalharam a versão do texto que vai ser lida junto com Carrero. “Eu já havia feito uma adaptação do livro para o grupo paulista Teatro de Transeuntes. Elas leram a versão, mas preferiram fazer uma nova, pois leitura dramática não é peça, não tem palco”, comenta o escritor salgueirense. Fabiana cita um dos colegas de peça, Diógenes, que brinca que “fazer uma leitura dramática é mais difícil do que fazer uma peça”. “Busca o tom e a inspiração de cada um é um processo difícil”, ressalta a atriz.

Segundo Ana, a ideia era criar uma versão que mantivesse a força quando lida. “Achamos que não estava num formato adequado e também sentíamos falta de certos momentos do livro. Então começamos a fazer uma leitura juntos, observando diálogo e selecionando trechos”, explica Ana, que vive Gabriella na leitura, que construiu a partir da sua vivência de interior, através das origens da família. Ela fica vestida de noiva a leitura toda, esperando o marido que morreu enforcado chegar”, adianta.

A ideia inicial era que Carrero interpretasse o Coronel Pedro Militão. No fim, o escritor preferiu deixar o posto para outra pessoa – Claudio Ferrário foi convidado para viver o personagem e também ler os trechos da narração da obra. Já Fabiana é a protagonista. “É uma figura feminina que também tem seu lado masculino, que é forte e frágil ao mesmo tempo. É uma filha como muitas que existem nas famílias, alguém responsável pelo andamento e pelo cuidado de todos.”, destaca a atriz.

Fabiana tem vontade de transformar a leitura em uma peça, mas é difícil porque quase não há dinheiro para isso – a apresentação tem apoio da Gráfica do Parque e do Empório Sertanejo, mas precisaria de mais dinheiro para cenário e ensaios. “O que queremos mesmo é movimentar a cidade”, define. Ana não esconde a vontade de ver a peça como uma montagem completa. “E quero levar a leitura para Salgueiro, porque o livro fala o tempo todo de lá”, aponta. Carrero faz coro: “Está lindo, algo extraordinário. Vamos tentar reunir esses recursos, até com ajuda estatal, se for preciso”.

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