Desde sua estreia nos cinemas, em 1982, o filme Blade Runner ficou imortalizado pela cena final em que o protagonista, vivido por Harrison Ford, escuta o marcante monólogo do androide ferido Rick Deckard. “Todos esses momentos vão se perder no tempo como lágrimas na chuva”, diz o personagem. Há 15 anos essa frase vem inquietando e fazendo o escritor pernambucano Fernando Monteiro refletir, até que ele decidiu intitular seu mais novo projeto de Palavração – O Ano das Lágrimas na Chuva, que estreia hoje, às 15h30, na Biblioteca Pública do Estado.
A iniciativa – realizada em parceria com a Ideação e incentivo do Funcultura – é de reunir, em cinco encontros, poetas locais e de outros Estados para debater o lugar da poesia no Brasil contemporâneo. A primeira convidada desembarca do Rio de Janeiro: Laura Erber conversa hoje com Fernando e aproveita a ocasião para também lançar no Recife seu último livro, A Retornada. “É uma bela pedida em termos de poesia. Laura é uma poeta jovem, que sabe que faz uma poesia de qualidade”, conta o idealizador do projeto. Assim como Fernando, Laura passou um tempo afastada de lançamentos poéticos. A Retornada vem após nove anos de hiato no mercado editorial e traz como maior marca a intertextualidade. Na obra, os poemas são construídos como respostas a versos de outros poetas já consagrados, como Sylvia Plath, Heiner Müller ou Ted Hughes.
Fernando Monteiro relembra que abandonou o romance para mergulhar no gênero da poesia em 2010. “Fui bem recebido como romancista, ganhei prêmios, mas a poesia, que é como o patinho feio da literatura, me chamava.” Para ele, debater poesia é, também e acima de tudo, discutir e dilatar a consciência humana. “O primeiro livro da humanidade foi um poema, e em 2017 a poesia continua a se fazer presente e importante nesse propósito de transmitir a sensação do mistério de existir. Ainda cabe se perguntar qual a razão de viver, o sentido do amor e da morte, pensar sobre lágrimas na chuva”, conclui.
O projeto
Na próxima terça-feira (29), a convidada de Fernando Monteiro é a carioca Marília Garcia que, além de poetisa, é editora da Luna Parque. “É importante discutir a poesia no mercado editorial, a conversa com Marília vai ser muito enriquecedora”, pontua o pernambucano. Nos dias 19 e 26 participam, respectivamente, Luci Collin e Valmir Jordão. O projeto segue até outubro, quando recebe como último convidado o paraibano Sérgio de Castro Pinto, dentro da programação da Bienal Internacional do Livro.