BIENAL

Finalista do Jabuti Maria Valéria Rezende é destaque deste sábado na Bienal

Livro que concorre à categoria de melhor romance tem história baseada no período em que ela passou no Sertão pernambucano

JC Online
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Publicado em 07/10/2017 às 10:16
Foto Silvia Costanti /Divulgação
Livro que concorre à categoria de melhor romance tem história baseada no período em que ela passou no Sertão pernambucano - FOTO: Foto Silvia Costanti /Divulgação
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Maria Valéria Rezende não é o que pode-se chamar de uma freira convencional. Mas afinal, existe alguma? Nascida em Santos em 1942, a escritora tem uma trajetória marcada pela dedicação à educação popular e pelo conhecimento das mais diversas culturas ao redor do mundo. Finalista do Prêmio Jabuti 2017 na categoria romance, ela cedeu uma entrevista por telefone ao Jornal do Commercio na manhã seguinte da divulgação do resultado.

Maria Valéria recebeu os parabéns pela indicação de maneira gentil, mas sem romantizar o fato. “Desconfio que me colocaram lá de cota, da velinha escritora para ninguém reclamar. Existe uma tendência nos juris de uma visão de como devem ser os ganhadores e as editoras investem nesses garotões”, diz.

O livro com o qual a paulista radicada em João Pessoa concorre é Outros Cantos, história de Maria, que cruzando o Sertão durante uma noite relembra da sua chegada àquele mesmo local 40 anos antes. A cidade que acolhe a protagonista na sua juventude é Olhos d’Água, nome fictício que a autora usa para falar na verdade de Caraibeiras, município do interior pernambucano em que ela morou na década de 1970.

É ela, a freira nada convencional, que já morou no Sertão pernambucano trabalhando com educação popular durante a Ditadura, que está no Recife hoje, para a 11° Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Ela participa às 17h do projeto Leia Mulheres e conversa sobre o lugar da mulher na literatura na atualidade. “Vamos falar também sobre o movimento Mulherio das Letras, que iniciou há cerca de dois anos e desde março se fortaleceu. E isso é muito necessário, basta lembrar que a Academia Brasileira de Letras só passou a permitir a entrada de mulheres em 1974 e até hoje não há uma representatividade feminina forte lá dentro”, ressalta.

Vida literária

A leitura e a escrita sempre foram muito naturais para Maria Valéria. Há quem diga que ela começou a publicar apenas aos 60 anos, mas na verdade desde criança ela escrevia suas próprias histórias e depois pedia para a avó costurar as páginas juntas. “Não tinha TV na minha época então de noite, depois do jantar, minha família sentava para ler poemas. Eu sabia muitos de cor! Eu lia de tudo e fazer livros era a brincadeira do meu tempo. Meus pais levavam a sério e achavam que eu me tornaria escritora mesmo”, relembra. Na adolescência, entretanto, o talento nato cedeu espaço à vontade de trabalhar com educação, mas sem jamais deixar a literatura de lado.

“Eu morava em Santos, e por ser uma cidade portuária recebia muitos navios e tinha sempre bibliotecas dentro, então eu pegava muitos livros em francês. Me formei depois em literatura francesa, inclusive.” Mas a França foi só um dos muitos países pelos quais a escritora passou. À lista é possível acrescentar México, Haiti, Cuba e Canadá.

“Passei muitas temporadas fora, mas sempre morei no Brasil.” Das andanças pelo mundo, a escritora pode aprender sobre o comportamento humano e chegar à conclusão que, não importa o lugar, "os ricos se cercam dos mesmos carros blindados, dos mesmos muros e comem o mesmo caviar, enquanto os pobres sofrem com as mesmas faltas e os mesmos problemas."

Confira a programação completa da Bienal do Livro no site do evento.

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