“O feminismo”, diz a escritora e filósofa gaúcha Marcia Tiburi, “é o contrário da solidão”. É a potência do movimento que interessa a autora, que se debruçou sobre o tema no seu novo livro, Feminismo em Comum, publicado recentemente pela Record, dentro do selo Rosa dos Tempos. Com um debate dos mais relevantes para os tempos atuais, ela vem ao Recife nesta terça (30) para lançar a obra na Livraria Cultura do Paço Alfândega a partir das 18h.
Na obra, a escritora se propõe a falar do feminismo não como uma “doutrina” pronta e estanque, mas uma forma de pensar e agir eticamente no mundo. Um dos seus intuitos, diz, é também evitar falar do movimento como um mero objeto de controvérsia. Reafirma que “retirar o feminismo da seara das polêmicas infindáveis e enfrentá-lo como potência transformadora é o que há de urgente”.
Assim, Marcia constrói seu pensamento através da reflexão filosófica e política e da experiência. Em grande parte, Feminismo em Comum é marcado pelo gesto didático de explicar o que é e o que pode ser o feminismo: é, para ela, antes de tudo, uma “ação ético-política responsável”.
“Para começarmos nosso processo de compreensão sobre o feminismo, podemos defini-lo como o desejo por democracia radical voltada à luta por direitos daqueles que padecem sob injustiças que foram armadas sistematicamente pelo patriarcado”, escreve Marcia. Outras questões como identidade, feminino, trabalho, patriarcado, diálogo e escuta também são abordadas.
LUGAR DE FALA
Ao se debruçar sobre o lugar de fala, um dos temas mais complexos dentro de movimentos sociais hoje, Marcia aponta que é preciso evitar confundir o lugar de fala com o lugar da dor. “O lugar da dor é individual, e em relação a ele só podemos ter escuta. Já o lugar de fala é o lugar democrático em relação ao qual precisamos de diálogo, sob pena de comprometer a luta”, argumenta. “Se, de dentro da minha dor, elimino o diálogo, posso já ter deixado de lado a luta. Posso estar perdido em um exercício de puro ressentimento.”
A autora também se nega a vê-lo como uma “moda” passageira. “Conservadores constantemente se apropriam do feminismo, tentam capturá-lo e transformá-lo em mercadoria”, afirma. Marcia – recentemente alvo de polêmica ao se recusar a participar de um programa que queria colocá-la para debater, de surpresa, com o militante do MBL Kim Kataguiri – aponta que o feminismo é particular e geral ao mesmo tempo, sempre em tensão com outros feminismos. Pode parecer uma fraqueza, mas é justamente pela capacidade de dialogar e exercer a auto-crítica que o movimento pode se mostrar ainda mais forte.