Eu queria publicar um livro de amor em 2019, repete a poeta pernambucana Adelaide Ivánova em um dos poemas da sua nova obra, 13 Nudes. Nada pode ser mais singelo em um volume que tem sua origem, ela explica, nos versos escritos e postados no Facebook em estado de meia embriagez com a esperança que alguns dos seus antigos amantes respondessem com um nude. As fotografias nunca chegavam; os poemas só ganhavam uns likes e eram apagados no dia seguinte. Desses recibos – termo recorrente e exato para a escrita da poeta – fracassados terminou surgindo esse tal livro de amor em pleno 2019, com tudo que isso pode significar.
13 Nudes (Edições Macondo) vai ser lançado nesta quinta (7/3), às 19h, no Quilombo Experimental (Rua da Biblioteca da UFRPE, 248, Dois Irmãos), junto com a primeira versão impressa de Polaroides, publicado em 2014 pela editora digital Cesarea. O evento ainda conta com a apresentação de outra obra da editora: o ensaio Nenhum Muro à Altura do Peito, da pesquisadora e poeta pernambucana Priscilla Campos.
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Os dois livros de Adelaide são, de modos diferentes, alimentados por uma dicção – melhor, por um delicioso sotaque poético – inconfundível, que circula entre a entrega e a autoironia com beleza, humor e acidez. Vencedora do Prêmio Rio de Literatura com o também impressionante O Martelo, ela abraça ainda mais as contradições em 13 Nudes, talvez por saber que a poesia parece melhor, e mais sincera e incômoda, quando abraça suas incertitudes e riscos.
Em um dos poemas dedicados a Italo, ela escreve: “te usar não como desculpa/ e sim como gatilho/ para silêncios melhores/ e mais incômodos/ para mais fogos, mais artifícios”. Os textos do livro são cartas, recibos, odes e indiretas. Uma expressão da poeta, que fala em dedicar “horas de trabalhos não forçados”, parece fundamental: 13 Nudes é um belíssimo livro desse trabalho degradante e voluntário que é o amor (ainda mais em 2019, ainda mais no meio do machismo).
A possível ironia de uma autora feminista que escreve poemas para homens em meio em 2019 não escapa a Adelaide. “Ser feminista e heterossexual não é uma contradição secundária/ é meio síndrome de Estocolmo”, atesta. Diz em outro momento: “não existe poema de amor/ inocente, adelaide”. 13 Nudes continua o movimento crescente da poesia de Adelaide: é vulnerável, firme, sexual, indomável, necessário, cômico e – sempre – contraditório. “Poesia é desespero”, já disse Adelaide, e ela sabe transformar e escrever o desespero como poucos.