Depois do protesto contra a participação do jornalista Glenn Greenwald na programação paralela da Festa Literária Internacional de Parati (Flip), com rojões dirigidos até contra o público presente, mais um evento literário é alvo de manifestações e ameaças. A Feira do Livro de Jaraguá do Sul, que, em sua 13ª edição, teria entre os seus convidados a jornalista Miriam Leitão e o sociólogo Sergio Abranches, cancelou participação dos dois na última terça (16).
Desde o anúncio da participação de Miriam Leitão, pessoas organizaram um abaixo assinado contra a jornalista por conta de seu ponto de vista crítico ao governo federal, reunindo mais de 3 mil assinaturas. O texto do manifesto diz: “Por seu viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade”.
Além disso, a organização do evento disse que recebeu ligações e comentários na internet que ameaçavam os participantes com ovadas e também afirmavam que tentariam impedir a realização da mesa. Em nota, os responsáveis pela feira afirmaram: “Nesses 12 anos, a feira já enfrentou inúmeras dificuldades, da escassez de recursos financeiros até enchentes. Mas nunca, em toda sua história, a festa da literatura foi atacada pela escolha de seus convidados.”
O coordenador artístico do evento, o escritor Carlos Schroeder, ainda afirmou ao site NSC Total que o cancelamento se deu por questões de segurança. “Como escritor, tenho vergonha de falar para a Miriam Leitão que não posso trazê-la porque não tenho como garantir sua segurança”, disse.
Miriam Leitão já foi atacada por Jair Bolsonaro por conta de um artigo. Na época, o então deputado disse que, se ele chegasse à presidência, a jornalista iria "querer lamber as suas botas". Miriam também já foi xingada por militantes petistas em um aeroporto em 2017.
OUTROS CASOS
O caso da Feira do Livro de Jaraguá do Sul não é o único. Como já foi citado, um pequeno grupo político tentou impedir a participação de Glenn Greenwald na programação paralela da Flip utilizando rojões para impedir que sua mesa, que acontecia ao ar livre, acontecesse. Apesar do convite para fazerem perguntas, os manifestantes continuaram a soltar fogos de artifício, com relatos de presentes de alguns foram direcionados para o público da mesa.
Em 2018, o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) cancelou realização da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, da atriz Renata de Carvalho, após pressões políticas do prefeito da cidade, Isaías Regis. Após liminares na justiça e ameaças à segurança da atriz, a peça foi feita em um espaço alternativo de Garanhuns, com recursos arrecadados por meio de uma vaquinha coletiva.
Outros casos, como boicote à exposição Queermuseu por seu conteúdo LGBT e a retirada, por parte dos cineastas, de filmes do Cine PE por discordarem da exibição de um documentário sobre Olavo de Carvalho, também aconteceram nos últimos anos.