A Loba, Marrom, até de Pandeiro Alcione se chamou, em uma de suas canções. Para ela, assumir um apelido faz parte da proximidade que gosta de ter com seu público. É como se fossem todos da sua família ou morassem em sua rua. "Eu vivo da reciprocidade com meus fãs, eles são meu termômetro. Se o público continua a me prestigiar, é sinal de que escolhi o caminho certo. Quando fui gravar meu DVD comemorativo de 40 anos de trabalho, no Rio de Janeiro, tinha gente de toda parte do Brasil. Fiquei imensamente feliz porque no início da carreira ninguém imagina aonde vai chegar. Nenhuma projeção seria fiel ao que vi naquela festa na Mangueira", conta.
O show mostrado no Rio de Janeiro por Alcione será levado ao palco nesta sexta-feira (21), no Teatro da UFPE. A apresentação faz parte da turnê Duas faces, que une a festa no meio do povo a uma jam session feita pela cantora e alguns amigos na sala de sua casa. Cada lado foi registrado em um CD e um DVD, lançados oficialmente durante a série de shows, que agora passa pelo Recife. "Jam session traz canções mais intimistas, algumas em outros idiomas, músicas que cantava na noite e o chamado lado B da minha obra. Canções que não tocaram nas rádios, mas que o público aprecia e conhece. No DVD da Mangueira, os sambas, os sucessos e algumas inéditas. Também vale registrar que gravei hits de outros cantores, mas que nunca havia gravado", explica a Marrom.
Os 40 anos de carreira, que ora celebra, começaram com apresentações em barzinhos no Rio de Janeiro, para onde a maranhense se mudou no final da década de 1960. Na época, os músicos precisavam conhecer sucessos internacionais ou, como conta Alcione, ninguém "se criava". Foi da vontade de relembrar esse tempo que veio a ideia de cantar em castelhano, francês e italiano neste novo trabalho. "No Brasil sempre se tocou muita música internacional. Ou você acompanhava isso, ou ficava desempregado. E eu sempre adorei gente como Charles Aznavour, Armando Manzanero, Stevie Wonder", afirma.
Foi cantando música brasileira, porém, que ela lançou seu primeiro disco, marco zero de sua trajetória profissional. No compacto simples lançado em 1972 pela Polygram estavam as composições Figa de guiné (Reginaldo Bessa e Nei Lopes) e O sonho acabou, um presente de Gilberto Gil. O sucesso veio de verdade em 1975, quando lançou o LP A voz do samba, cujo carro chefe foi a canção Não deixe o samba morrer, obrigatória até hoje em seus shows e, por isso, entoada na apresentação de mais tarde, no Teatro da UFPE. Já a história de Alcione com a música é bem mais antiga que os idos da década de 1970.
Aos nove anos de idade, ela já cantava em festa de amigos e familiares. Aos 12, apresentou junto à Orquestra Jazz Guarani, regida por seu pai, as canções Pombinha branca e Ai, menina. A segunda, um fado, anunciava o drama que marcaria as interpretações da cantora, no restante de sua carreira. Alcione acostumou-se a fazer de suas músicas um divã, sendo ela, ao mesmo tempo, paciente e terapeuta. Quem já foi a seu show, certamente já a ouviu clamar por alguma prova de amor. "Quem aí seria capaz de fazer uma loucura por mim?", pergunta antes de cantar os versos "Sai gritando por aí bebendo e chora/ Toma um porre picha um muro que me adora/ Faz uma loucura por mim".
Alcione canta Duas faces - Jam session e Ao vivo na Mangueira, hoje, a partir das 21h, no Teatro da UFPE (Campus Universitário). Ingressos: plateia: R$ 120 e R$ 60 (meia), balcão: R$ 90 e R$ 45 (meia), à venda no local. Informações: 3453-4344
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