O caso do homem que era tão doce que as mulheres simplesmente corriam atrás dele. Negro, charmoso e o rei da pilantragem – no melhor sentido da palavra. Nos anos 1960 e 1970, ninguém resistia a Wilson Simonal (1939-2000). “A pilantragem era o único ritmo que combatia o iê-iê-iê nas boates. Quando tocava, todo mundo dançava”, relembra Chico Anísio no documentário Wilson Simonal – Ninguém sabe o duro que dei. Neste sábado (2), na prévia do bloco Enquanto isso da Sala de Justiça, o homem cuja mãe trocou o talco pelo açúcar ressurge em versão renovada: o Baile do Simonal – ao qual também é bem difícil resistir. Formado por seus filhos, Max e Wilson Simoninha, a banda é uma grande homenagem. Criolo e Monobloco são os outros destaques da noite, que começa às 22h, no Centro de Convenções.
“O projeto existe desde 2009, que foi um ano muito simbólico, de resgate, pois teve o lançamento do documentário, que foi um sucesso, e o livro Nem vem que não tem – A vida e o veneno de Wilson Simonal ganhou o Prêmio Jabuti. A imagem dele voltou com a muita força. É uma experiência muito legal, criar uma ligação de maneira geral a um artista que ficou esquecido por tanto tempo”, conta Simoninha, que traz o Baile pela primeira vez a Pernambuco.
Ao falar em “esquecimento”, o filho do cantor remonta a outro trinômio pelo qual Simonal foi carimbado: negro, famoso demais e não engajado politicamente. Em plenos anos de chumbo, o cantor foi enredado numa história, hoje tida como boato, que o transformou no parceiro do Dops, órgão da ditadura. Acusado de ser dedo-duro, um mal entendido lhe custou a vida – no melhor sentido da palavra. O boicote foi geral. O homem, aquele que fazia todos cantarem, caiu no ostracismo e nunca mais cantou.
“Ele dizia para mim ‘Eu não existo na história da música brasileira’, conta, também no documentário, a sua segunda mulher Sandra Cerqueira. É dela a lembrança de que Simonal assistia aos shows de Max e Simoninha escondido, para não causar problemas aos filhos.
“Ele incentivava mas era ao mesmo tempo muito zeloso, sempre teve muito cuidado com esse tipo de coisa. Eu acho que ele fez o que poderia fazer”, lembra Simoninha.
Simonal, o carioca que sofria pela cruz que ganhara na ditadura, morria de orgulhos da dupla de artistas que criara. Depois, foram os dois que resgataram o passado pelo qual o pai deve entrar para a história: alegre, mestre da bossa-nova, da reinvenção de ritmos e que sabia levar uma plateia como ninguém.
“As pessoas gargarejavam antes ir ao show dele. Faziam vocalize”, diz Chico Anísio, sobre os conhecidos momentos do show do cantor em que milhares de pessoas se rendiam a um músico “entertainer”, que trouxe ao Brasil uma das primeiras versões do pop verde-amarelo.