Principal referência na formação musical no Estado, o Conservatório Pernambucano de Música (CPM) respira aliviado novos tempos, exatos dez anos depois de ser extinto como autarquia e quase haver sido transformado em Organização Social (OS) pelo governo estadual, o que na época, segundo especialistas poderia haver significado o fim da decana instituição. O passado de incertezas ficou para trás e a escola, que virou uma unidade técnica ligada à Secretaria de Educação, comemora uma década de implantação e consolidação de projetos que, de acordo com a atual gestão, serão ampliados a partir deste ano. E não fica por aí. As aspirações para o futuro são muito maiores.
Prestes a completar 83 anos de existência, o CPM nem de longe lembra a instituição de dez anos atrás. Logo no início daquele ano alunos, professores e servidores foram surpreendidos pelo Projeto de Lei (PL) nº 1.388/2003, que transformava a então autarquia em Organização Social, modelo segundo o qual, caso uma empresa privada não se interessasse em assumi-la em 180 dias, seria extinta. De acordo com o argumento do governo da época, como OS o Conservatório se tornaria “mais ágil”. Para os opositores ao projeto, isso significaria o fim da escola. Após várias manifestações contrárias ao PL, o CPM foi recriado como unidade técnica da então Secretaria de Educação e Cultura pela Lei Complementar nº 49 de 31 de janeiro de 2003.
A mobilização em prol do Conservatório trouxe algo muito mais positivo do que salvá-lo de se tornar uma OS. Professores, servidores, alunos, membros da Associação dos Amigos do CPM e indivíduos da sociedade civil simpatizantes da instituição se uniram em torno de um projeto de gestão com o intuito de fazer com que a escola ampliasse seus programas e estreitasse sua relação com a comunidade. O movimento foi fortalecido com a criação, dois anos depois, da Associação dos Professores e Funcionários do CPM (APEFCPM).
Em 2006, uma equipe de dez professores elaborou um plano de aperfeiçoamento para apresentar ao novo governo do Estado que assumiria no ano seguinte. Com a eleição do governador Eduardo Campos, o professor Sidor Hulak, que foi o primeiro diretor executivo da APEFCPM, foi também escolhido o gestor geral do Conservatório.
O ano de 2007 foi crucial para a atual configuração do órgão. “Quando o governo assumiu, o CPM quis alinhar a estratégia do Conservatório com a do governo”, lembra Sidor. Basicamente, os pilares da estratégia estabelecida, que permanecem até hoje, são: a excelência na formação dos músicos; o desenvolvimento social; e a interiorização da escola no Estado. A alguns programas que já existiam e tiveram continuidade foram somados novos projetos que, segundo garante o gestor, este ano voltam a ser ampliados. “Hoje em dia o Conservatório segue o trabalho que deveria estar seguindo”, afirma Sidor. “A gente se alinhou à missão de atividade pública de um governo que deu a possibilidade de fazer as ações que estamos fazendo.”
No quesito formação, que é o foco principal da escola, nos últimos seis anos houve um aumento de 84% no número de alunos matriculados no CPM, que passou no período de 1.250 para 2.300 estudantes. E, desde 2010, além dos cursos de iniciação musical, preparatório e extensão, é oferecido o curso técnico, que diploma os alunos formados e os capacita a exercer a função em qualquer instituição brasileira.
A ideia da atual gestão, inclusive, é abrir mais espaço para a formação técnica. Perguntamos se isso não comprometeria um legado que o CPM carregou por 80 anos, de foco na iniciação musical. Sidor acredita que não. “A gente quer equilibrar. Hoje em dia cada vez mais é importante ter uma certificação, que tem validade nacional. O Conservatório é uma referência. Em um concurso isso pode ser um diferencial. A profissionalização e a diplomação do músico é muito importante”, analisa o gestor. Ainda para ele, diferentemente de sua própria geração, que se preocupava apenas em aprender e se aperfeiçoar no ensino de música, o aluno atual quer ser diplomado.
Na lista de programas que tiveram continuidade e de projetos que foram implantados a partir de 2007, o Conservatório Pernambucano de Música destaca o Orquestrando Pernambuco, de formação de jovens músicos para orquestras de todo o Estado; o Bandas de PE, voltado para bandas de música; a Orquestra Sinfônica Jovem (OSJ), que desde 2006 já realizou 132 concertos oficiais e consolidou no calendário cultural do Estado o Circuito Sinfônico; o CPM Gravações, incentivo para que jovens talentos realizem o sonho de gravação de seu primeiro disco; os eventos Quartas Musicais, Sextas de Música e Palco para Todos, realizados na sede da instituição; e o Música & Letras, de música e literatura, realizado em parceria com a Academia Pernambucana de Letras (APL).
Na falta de unidades regionais no interior do Estado, o gestor geral do CPM, Sidor Hulak, avalia a realização de programas como o Orquestrando Pernambuco, o Bandas PE e o Circuito Sinfônico como “uma tentativa real de interiorização” do Conservatório.
A realização e continuidade de vários projetos, sem dúvida, aumentou o número de atividades do Conservatório Pernambucano de Música e estreitou ainda mais sua relação com a sociedade pernambucana desmitificando uma ideia que permanecia há décadas de que o CPM era apenas uma escola fechada para os professores e alunos que dela faziam parte. Porém, a instituição atualmente quer avançar mais e vislumbra projetos mais ousados para o futuro. Os principais: a ampliação física de sua sede; a inauguração de uma sala de concertos (nos moldes da Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e a criação de um curso superior.
Leia as matérias na íntegra na edição deste domingo (21/4) do Caderno C do Jornal do Commercio