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Maria Bethânia arrebata a plateia com suas palavras de amor

Cantora baiana se apresentou na última sexta-feira no Recife, e emocionou com sua Carta de amor.

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 22/04/2013 às 6:10
Ricardo B. Labastier/JC Imagem
FOTO: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Sexta-feira de muita chuva no Recife. À noite, os relâmpagos clareavam o céu e as águas lenteavam o trânsito da cidade. “Eparrêi, Oiá!”, gritou Maria Bethânia no final da quarta música (Dona dos raios e dos ventos) do seu show, cruzando os braços no ar, numa expressão guerreira, para saudar o orixá dos ventos e das tempestades. A cantora baiana subiu ao palco do Teatro Guararapes com a força e o brilho de Iansã.

Em Carta de amor, Maricotinha mais uma vez arrebatou sua plateia com simplicidade de gestos e, ao mesmo tempo, grandiosidade de interpretação num enredo que remonta os sentimentos, crenças e lembranças que ergueram os seus mais de 40 anos de carreira. E os pernambucanos, claro, lhe agradeceram com eufóricos aplausos e uma bilheteria esgotada.

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Maria Bethânia arrebata a plateia com suas palavras de amor - Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Dayvison Nunes/JC Imagem
Maria Bethânia arrebata a plateia com suas palavras de amor - Dayvison Nunes/JC Imagem
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Maria Bethânia arrebata a plateia com suas palavras de amor - Ricardo B. Labastier/JC Imagem

 

No início do primeiro ato do show, a orquestra deu os primeiros acordes ao se abrirem as cortinas. Do fundo escuro do palco, sobre um belíssimo tapete de retalhos brancos, Bethânia surgiu falando da doçura e da libertação que a palavra e a música lhe trazem. Traduziu isso com Canções e momentos, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e Sangrando, de Gonzaquinha, como quem pedia licença para começar sua grande oração – por que, afinal, ao mesmo tempo em que canta, ela reza.

Nesse primeiro bloco do show, a baiana falou dos venenos, dos desencontros, das desilusões, das nostalgias e das dores. Na sua carta, era como ela confessasse o amor incontrolável ao seu remetente, mas também, dona de si, alertava das feridas do coração (Fera ferida) e gritava por liberdade: “Não enche”. E o público sentia tudo isso junto com Bethânia, seguindo com os olhos os passos e gestos da intérprete em cada frase das canções, como nas extasiantes Calúnia e Negue. No entanto, ficou faltando Vive, música de Djavan, gravada em Oásis de Bethânia e não acrescentada ao repertório da turnê.

O caminho que Maria Bethânia segue durante todo o seu show é muito bem desenhado por ela e pela diretora Bia Lessa. A verdade e firmeza que a cantora busca dar a cada coisa dita ou até não-dita em cena é conduzida magistralmente pelo não-verbal criado por Bia. O simples e lindo cenário erguido com luzes que sobem e descem ao longo de toda a apresentação, junto com o tapete que forra o chão firme de Bethânia, transformam o palco em um oásis.
 
Depois de cantar Quem me leva meus fantasmas, Bethânia colocou as mãos nos cabelos, jogou-os para trás e seguiu um traçado de luzes para as coxias, deixando o maestro Wagner Tiso e sua banda tocarem uma versão instrumental de Maria, Maria. E é de Wagner, inclusive, grande parcela da responsabilidade da leveza de Carta de amor. Os arranjos modernos e ao mesmo tempo densos dão os tons certos para cada interpretação.



Na volta para o segundo ato, Maria Bethânia volta com seu tom mais popular, resgatando os sertões e as meninices. Ela abre o novo módulo com uma homenagem indireta ao Recife, louvando os maracatus em Festa, de Gonzaguinha, e Dora, de Dorival Caimmy. Daí, a baiana vai seguindo seu caminho cíclico com A casa é sua, Adeus Guacira e um pot-pourri de sambas de roda, para o encanto de seu público com Reconvexo – e emocionando com a mão levada ao peito ao falar da “novena de Dona Canô”.



Mas o ápice do show é de fato a interpretação da música-título da turnê. Ao declamar sua Carta de amor, Bethânia escancara os deuses e a fé que existem nela. Fala de força e maturidade, do poder de amar e, sobretudo, de se amar. Longe de medos, com frases fortes, “Não mexe comigo, /que eu não ando só”, é, sem dúvida, o “Carcará, pega, mata e come” em tempo de Marco Feliciano, de racismo e preconceitos.

Por fim, ela volta como começou: louvando o dom de cantar e celebrando a vida, com seu querido Gonzaguinha. O que é o que é resume Bethânia, o palco e esse amor dela pela arte. Agradecendo as palmas da plateia, a cantora ainda homenageou o percussionista Naná Vasconcelos, seu amigo, dedicando a apresentação a ele, que estava entre o público.

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