O destino sabe ser irônico. A história do disco Quem é quem, de João Donato, é justamente um desses casos da história provando alguém errado. Na época do lançamento do álbum, há 40 anos, a gravadora Odeon deu pouca força para a divulgação: não fez nenhum show ou festa, mal falou com a imprensa. O pianista decidiu fazer um protesto. Chamou a imprensa, subiu no Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro, e começou a jogar alguns de seus vinis pelo ar, criando uma própria versão de um lançamento.
No fim, o vinil ficou como um dos principais da trajetória de Donato, constando na lista dos 100 melhores discos brasileiros de todos os tempos da revista Rolling Stones Brasil. Na próxima terça-feira, dentro da programação do Rec-Beat, no Cais da Alfândega, o pianista traz ao Recife a comemoração dos seus 80 anos de vida e dos 40 anos do disco. “É engraçado. Na época, o disco existia, mas não teve lançamento ou festa. Hoje, tem essa comemoração toda, mas o disco é difícil de encontrar”, aponta. A promessa, no entanto, é de que ainda este ano o público vai ter acesso a uma nova prensagem de Quem é quem.
Apesar de shows abertos em meio a uma festa como o Carnaval serem um fato incomum na trajetória de Donato, ele entende que sua música se adapta bem ao contexto. “Ela é bastante alegre, vai se enturmar com essa parte festiva dos pernambucanos. Já toquei uma vez no Carnaval, gosto muito do frevo, como vocês”, declara-se, confessando que, desta vez, espera evitar a chuva da última passagem.
Durante a semana, Donato vinha ensaiando para a celebração dos 40 anos de Quem é quem. Em São Paulo, o show acontece hoje, com participação de Tulipa Ruiz, Marcos Valle e Mariana Aydar. Por aqui, os convidados não virão, mas há ganhos: Donato deve receber no palco Naná Vasconcellos, que tocou na gravação do disco, e Josildo Sá.
A banda que o acompanha é uma velha conhecida do público do Rec-Beat: a Bixiga 70, que há dois anos foi ovacionada no mesmo palco em que volta a subir agora. “Fui apresentado a eles pelo Ronaldo Evangelista, que é quem teve a ideia do show de Quem é quem”, aponta.
Aqui, ele vai tocar na mesma noite que nomes completamente distintos: Emicida, Graxa, Boogarins e Skip&Die são algumas das atrações. “Para mim, todo tipo de música é bom. O meu filho, Donatinho, gosta muito de rap, eu já estou acostumado a ouvir. Não é minha praia, mas nunca me incomodaria, claro”, comenta.
Para este ano, Donato tem uma lista de projetos: biografia, série no Canal Brasil, shows nos Estados Unidos, Finlândia, Japão e Rússia, uma edição limitada de pianos com seu nome e um disco com versões para dois de seus compositores preferidos: Ravel e Debussy.
“Selecionei trechos de peças que se adaptam aos ritmos de que gosto. Vou acrescentar piano, contrabaixo e percussão às orquestrações originais”, revela. E deixa uma promessa aos pernambucanos: “Ainda não gravei um frevo, mas o projeto está na minha lista”.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta sexta (28/2)
