A música popular brasileira já tem um de seus grandes discos de 2014. Corpo de baile, novo trabalho de Mônica Salmaso, lançado pela gravadora Biscoito Fino, é uma joia rara de delicadeza em um cenário em que domina o apelo comercial grosseiro. São 14 faixas que resgatam da obscuridade, a partir de um esforço de pesquisa minucioso, os melhores momentos da parceria firmada nos anos 1970 entre o violonista Guinga e o poeta e letrista Paulo César Pinheiro. Prodígios de melodia e harmonia, elas permitem a essa cantora paulista comprovar por que é considerada pela crítica uma de nossas melhores intérpretes.
Corpo de baile não é o primeiro trabalho arqueológico de Mônica Salmaso. Afro-sambas, sua estreia em CD, de 1995, reúne uma dúzia de raridades da dupla Vinicius de Moraes e Baden Powell.
O passado da MPB também deu as coordenadas de Alma lírica brasileira, editado em 2011, em que revisitou clássicos de nosso cancioneiro acompanhada pelos sopros de Teco Cardoso e o piano de Nelson Ayres. O novo projeto, no entanto, foi o que durou mais tempo para se concretizar: uma década entre as pesquisas iniciais e a gravação.
“Eu fiquei sabendo dessa parceria e, como fã que sou dos dois, pedi para escutar. Achei o material riquíssimo. No total encontrei 23 composições. Mas aí apareceram outros trabalhos e eu tive que adiar o projeto. O que, por outro lado, foi ótimo, porque pude amadurecer como cantora para dar conta de um repertório tão denso”, conta Mônica Salmaso.
Apesar de Guinga e Paulo César Pinheiro estarem estremecidos há anos, os dois não colocaram obstáculos à empreitada. Pelo contrário, segundo Mônica, “foram supergenerosos, tiraram dúvidas em relação às letras, sempre atenderam minhas ligações”, explica.
Para garantir a dinâmica entre as faixas, ela preferiu reunir um time de músicos e arranjadores variados capazes de colorir as canções com instrumentos como violão, viola caipira, piano, cordas, clarinetes e banda de sopros.