Outros Críticos bem disseram: No mínimo era isso. Foi no show de lançamento desta coletânea – composta por 10 bandas e 10 ensaios – que a ideia de combinar as sonoridades de artistas diferentes, tocando suas músicas entre si, deu luz ao Dois Sons. Do mínimo que o projeto moldava ser, nutrido da coletividade proposta, o intercâmbio artístico transpôs os limites da criação individual. Permitiu experimentações e combinações, bem como trocas de experiências entre diferentes gerações e distintas cenas musicais. Prova disso são os sons já compartilhados por Isaar e Aninha Martins, Juliano Holanda e Matheus Mota, DJ Dolores e Hugo Linns e Paes e Nascinegro, estes últimos trazem Dois Sons recém-saídos do forno, as faixas Transmutação e Praia do forte, lançadas ontem no soundcloud do OC.
O editor da revista e curador do projeto Carlos Gomes viu que as interações musicais que fluíram no lançamento de No mínimo era isso davam pano para manga. Assim sendo, logo na primeira edição da revista Outros Críticos, deu início à empreitada. “A minha ideia era ter um nome mais experiente, que tenha lançado mais discos, com um nome bem novo. É meio a coisa de curadoria, o feeling. Achar o que pode ser diferente e dar um resultado novo”, explica.
O tema artes integradas rege a edição deste mês da Outros Críticos. Este sentido de cambiar linguagens fez com que os músicos Paes e Nascinegro (duo formado por Claudio Nascimento e Carlos Montenegro) fossem convidados. Produtor, cantor, compositor e instrumentista, Paes se prepara para lançar o disco Sem despedida, já liberado virtualmente no ano passado, além vinis e fitas cassete via crowdfunding. O duo Nascinegro, que agora segue os trilhos do audiovisual, está presente na assinatura de trilhas sonoras de Deixem Diana em paz e Viajo porque preciso e volto porque te amo.
“É primeira vez que entro em contato com a música eletrônica nesse nível, para compor junto. Carlos e Cláudio fizeram a base e eu fiz a melodia e a letra. Foi uma aventura nova e o processo diferente do que estou acostumado com meu trabalho solo”, relata Paes. “Fizemos uns samples, ouvimos e recortamos juntos. Paes levou para casa para trabalhar com a guitarra e as letras. A criação foi muito espontânea.”
Bem como brincou o DJ Dolores todo este processo é natural demais para teorizar. Ele, por sua vez, costurou sua criação com o violonista Hugo Linns na edição anterior da OC cujo tema era paisagem sonora. “Ele é um grande músico. Eu não sou músico. Faço as minhas coisas. Para mim, música é uma coisa instantânea, não tem como racionalizar”, define. A criação dos dois deu origem ao projeto Fuso. Pouco tempo após o lançamento das faixas Batatinha e Rêveur, em um show no Festival Continuum, estavam Helder e Hugo gravando no Fábrica Estúdios.
“O Continuum teve quase uma hora de apresentação e, a gravação, quase duas horas. Gravamos ao vivo, como se fosse um show. Ele montou equipamento o dele, eu o meu e fomos desenvolvendo”, explica Hugo. Nos dias seguintes à gravação, o violonista estaria emprestando suas cordas a mais uma criação de Dolores: a trilha sonora de Big jato, filme de Cláudio Assis.