DISCO

Alessandra Leão realiza o lançamento de Pedra de Sal

Com cinco faixas, álbum é o primeiro de uma trilogia de EPs

Alef Pontes
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Alef Pontes
Publicado em 10/11/2014 às 10:40
Tiago Lima/Divulgação
Com cinco faixas, álbum é o primeiro de uma trilogia de EPs - FOTO: Tiago Lima/Divulgação
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Na última semana, a cantora compositora e percussionista Alessandra Leão realizou o lançamento virtual de Pedra de sal, o primeiro EP de uma trilogia que tece uma narrativa intimista sobre a vivência e pesquisas da autora. O álbum traz cinco faixas, todas de autoria de Alessandra – duas em parceria com Kiko Dinucci – e conta com as participações de Caçapa, que também assina a direção musical, Juçara Marçal (voz), Rafa Barreto (guitarra), Missionário José (baixo e edição), Mestre Nico (percussão), Guilherme Kastrup (bateria e programação) e Lurdez da Luz (voz).

“Inicialmente eu tinha pensando em fazer um disco, que seria o Língua. E esse ano, em São Paulo, apareceu algumas oportunidades de realizar, mas isso implicaria em só finalizar no ano que vem. Depois surgiu a oportunidade de fazer um EP, mas a gente também não queria fazer uma coisa menor. E partir dessa inquietação, eu decidi lançar uma trilogia, que, artisticamente falando, ficou muito mais interessante”, explica a cantora.

Segundo Alessandra, desde a concepção do disco Língua, o trabalho já havia três momentos distintos, que montam uma jornada, uma espécie de trajetória. “Ele foi dividido em partes do corpo e cada capítulo tem haver com um aspecto da trilogia. Pedra de sal, significando a alma e os ossos; Aço, representando a carne, pele e sangue; E Língua, que é a língua mesmo”, explica. 

Ela conta ainda que o projeto foi pensando para unir diversas vertentes artísticas, incluindo a atriz e dramaturga Luciana Lira, que assina a direção cênica, e a artista plástica Vânia Medeiros, que assina o projeto gráfico: “Uma coisa que tenho pesquisado muito é como as linguagem podem dialogar e serem criadas juntas, de uma forma mais sólida. A minha maior referência para isso é o cavalo marinho, no qual a gente não consegue distinguir o que é dança e o que é teatro”.

Outro aspecto que diferencia o álbum é que, em Pedra de sal, a percussão – muito marcante em Brinquedo de tambor e Dois cordões – ganha um novo formato, dando espaço para programações e batidas eletrônicas. “Eu já vinha querendo fazer um disco que não tivesse os ilús (tambores). Testamos com e sem, e depois com a bateria. Nas duas primeiras músicas, se escuta uma bateria mais estranha, com pouco uso do caixa e bumbo. Utilizamos também pratos rachados”, conta a cantora, que afirma ter utilizados a música de grupos do Congo como referência nesse aspecto. 

Além disso, os samples e elementos eletrônicos foram gravados para soar de forma orgânica, sem amarrar a música aos beats. “Eram coisas que eu já estava querendo investigar e essas músicas precisavam de uma sonoridade que fosse mais agressiva, mais ruidosa”, complementa.

A cantora nega que haja um rompimento com o trabalho que vinha realizando anteriormente, e sim uma continuidade, utilizando o maracatu como exemplo, que, segundo ela, se renova a cada dia: “Não sinto que rompi com nada. O Brinquedo de tambor falava da minha vida em 2006; Dois cordões falava da minha vida em 2009. A criação fala do que você é naquele momento, do que você vive e faz. Tem coisas minhas de 2006 que eu não canto mais, porque as letras não fazem mais sentido, hoje”.

A ideia é de que, no primeiro semestre de 2015, seja realizado o lançamento do segundo EP, Aço, e no segundo semestre, de Língua.

Pedra de sal

Na música que abre os trabalhos, Doutrina e toque de Iemanjá, a cantora apresenta toadas paraenses e pernambucanas presentes nos cultos do candomblé, que foram originalmente gravadas pela Missão de Pesquisa Folclórica, idealizada por Mário de Andrade, em 1938 – como explica no próprio encarte do álbum. Na canção, as referências africanas permanecem claras, mas sob uma moldura paraense, traçada pelas guitarras de Caçapa e Rafa Barreto. “Eu já escuto esse repertório das missões há muito tempo. Sempre escuto e volto à ele. Recentemente o selo Sesc remasterizou boa parte do acervo”, conta Alessandra.

A música que dá título a obra vem em seguida. Nela, a voz marcante de Alessandra se destaca em um cenário em que as guitarras insinuam uma dança. Impossível não imergir no balanço (ainda mais discreto) sugerido por Tatuzinho, composta em parceria com Kiko, nem terminar a música sem assobiar ou cantarolar. “Que vontade de pegar/ nessa mão, mas será?/ eu não paro de olhar/ tua boca falar/ Eu vou te beijar/ pra ver como é que fica/ não vou duvidar/ pra ver no que é que dá”, diz a letra.

Tatuzinho já emenda com Mofo no mesmo balanço, de forma que um ouvinte desatento pode não perceber a mudança. Mas é na última canção, Devora o lobo, que Alessandra, consciente do poder que sua voz tem, realiza o apogeu. Os gritos da cantora nos devoram com a mesma ferocidade do lobo retratado na letra. É também na última faixa que as programações de Guilherme Kastrup têm maior destaque.

Confira o álbum:

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