“Você que machucou meu coração, me fez chorar.” Os melancólicos versos de sofrência de Porque homem não chora, do cantor baiano Pablo dividem opiniões, assim como o romantismo. Sobretudo quando se trata do sofrimento (estridente como a voz do cantor) ou da demonstração pública e nada tímida de afeto – vide os apelidos carinhosos Meu Bebê e Bilu Bilu presentes nas canções. Pablo, que se autointitula o criador do gênero arrocha, se apresenta nesta sexta-feira (28), às 21h, no Clube Internacional do Recife, na Noite da Sofrência, com Léo Guilherme e Forró Santropê e Banda Torpedo.
Febre na internet, a nova expressão teve origem nas redes sociais, especificamente no Whatsapp, com os vídeos de humor realizados pelo vendedor pernambucano Fábio Francisco de Melo, 33 anos, renomeado Fabinho Sofrência. “Eu me divirto muito com todos os vídeos que eu recebo, uns até posto no meu Instagram. Acho demais a criatividade das pessoas. Essa questão da sofrência virou uma marca. Eu adoro”, comemora o parodiado Pablo.
Se no mundo virtual o assunto da vez é o famoso “pé na bunda”, a matéria “dor de cotovelo” já é velha conhecida no mundo real. Basta um ouvido mais atento às conversas-desabafo que continuam inquietando garçons e mesas de bar do Recife, desde os saudosos tempos das raposas e das uvas de Reginaldo Rossi.
“As pessoas se identificam com as letras, porque eu canto o cotidiano das pessoas, mesmo. A dor do amor, a reconquista, o recomeço e até as brincadeiras entre os casais. O amor é isso. É a entrega, vale brincar. Todo casal, em sua intimidade, tem esse lado Bilu Bilu, como em ‘cola agora a sua boca em mim / e faz bilu bilu bilu’, ou ‘lembrei que me acordava de manhã só pra dizer / bom dia, meu bebê / te amo, meu bebê’. Ê paixão! (risos)”, afirma o cantor, acrescentado que a música Fui fiel, na qual se escuta esses últimos versos, virou hit na voz de Gusttavo Lima.
A música de Pablo serve tanto para chorar sozinho quanto para namorar. A vendedora Marinalva Alves, 32 anos, concorda. “Eu tenho um CD em casa, mas quem sofre não sou eu. Gosto de ouvir quando estou apaixonada, as letras falam do que eu sinto”, diz.
Gosto se discute. Este é o posicionamento do artesão Marinaldo Nunes, que tomava sua cerveja em um dos boxes do Mercado de São José quando perguntado sobre sofrência. “Eu procuro evitar. Isso pra mim são músicas ridículas. Eu sou tradicional, eu sou MPB, Caetano, Chico, Alceu Valença. A cultura brasileira está perdendo valor”, dispara. Não sabe ele que, além de cego, o amor também pode ser surdo.