Luto

Morre o sanfoneiro Camarão, ícone da música nordestina

Camarão era considerado "Patrimônio Vivo de Pernambuco" desde 2005

Do JC Online
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Publicado em 21/04/2015 às 10:55
Foto:Edmar Melo/JC Imagem
Camarão era considerado "Patrimônio Vivo de Pernambuco" desde 2005 - FOTO: Foto:Edmar Melo/JC Imagem
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Atualizada às 17h50

O sanfoneiro pernambucano Reginaldo Alves Ferreira, conhecido como Camarão, morreu, na manhã desta terça-feira (21), no Recife, aos 74 anos. O músico estava internado no Hospital Santa Joana desde sábado para fazer alguns exames, quando apresentou um quadro de infecção e veio a falecer, às 8h40 desta terça.

O corpo de Camarão será velado a partir das 18h na Câmara dos Vereadores do Recife. A pedido do próprio músico, o enterro acontecerá em Caruaru, no Agreste. A sepultamento será na manhã da quarta (22), ainda sem horário definido.  

Mestre Camarão nasceu em 23 de junho de 1940, em Brejo da Madre de Deus, e era Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2005. Em 2013, ele foi um dos perfilados no caderno especial do JC, Pernambuco Vivo, sobre os 30 artistas que têm título patrimônios do estado.

 

 

NO RITMO ORQUESTRA SANFÔNICA

Reginaldo Alves Ferreira, Mestre Camarão, tinha 7 anos quando fez seu primeiro grande show. Foi submetido ao crivo dos sanfoneiros da sua família, numa das reuniões no quintal da Fazenda Camalaú, no interior da Paraíba. Tinha sido levado pelo pai, Antônio, e a mãe, Josefa. Foi tão aprovado que tomou gosto. Continua um nota 10 até hoje, sempre que empunha a sanfona sobre os palcos – agora maiores e na presença de outros públicos.

Nascido na véspera de São João de 1940, o músico, que foi apelidado aos 18 anos pelo cantor Jacinto Silva, por causa das suas bochechas avermelhadas, é natural de Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco. Ele aprendeu sanfona olhando o pai tocar. Aproveitava a ida de Antônio à lavoura para ensaiar algumas notas no instrumento. Aos 10 anos, foi para Caruaru. Aos 18, já fazia parte do elenco de músicos contratados da Rádio Difusora. 

O trabalho em Caruaru foi ampliando a bagagem de Camarão. Em 1961, mesmo ano em que representou o Estado na festa de aniversário de Brasília com o Trio Nortista (ele, Jacinto Silva e Ivanildo Peba), gravou seu primeiro disco, pela Rozenblit. Foi numa das apresentações na Difusora que Camarão tocou com nomes como Hermeto Pascoal e, claro, o onipresente Luiz Gonzaga. Novamente o Rei do Baião deixa sua marca imprescindível na história dos Patrimônios Vivos de Pernambuco. O Velho Lua levou Camarão para gravar dois discos com ele, em 1969 e 1970, na RCA. 

"Nossa amizade durou enquanto ele foi vivo. Luiz Gonzaga também lutou pelos sertanejos, pela família dele, por Exu. Foi quem levou a (rodovia) BR até em cima da Serra do Araripe. Ele chegou a trocar shows por alimentos, na época de seca, para levar para o povo dele", lembrou o sanfoneiro, em 2012, em entrevista no camarim da TV Jornal, no Recife. 

No entanto, o que transformou Camarão em um grande mestre foi sua ousadia e inovação. O sanfoneiro criou em 1968 a primeira banda de forró do País, a Bandinha do Camarão, em que introduziu ao ritmo - até então compassado pela zabumba, o triângulo, o pífano e a sanfona - instrumentos de sopro como tuba, trombone e clarinete. No mesmo ano lançou a Orquestra Sanfônica, projeto no qual a sanfona deu base também para o frevo e o maracatu. Era um encontro de família.

Camarão dava aulas na escolinha Acordeon de Ouro, que criou em casa, no bairro da Estância, no Recife. Ensinava as primeiras lições do instrumento a crianças e adultos. Com três filhos, todos músicos, ele garantiu a continuidade da sua obra, mas padeceu de uma saúde fragilizada. Há cinco anos, fez uma cirurgia para a retirada dos rins e desde então precisava se submeter a três sessões de hemodiálise por semana.

 

 

 

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