MÚSICA

A reinvenção de Vicente Barreto

Depois de 10 anos sem lançar discos, o músico baiano encontra nova geração de artistas em Cambaco. Com eles, aposta em renovação

GGabriel Albuquerque
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GGabriel Albuquerque
Publicado em 10/11/2015 às 12:46
Foto: José de Holanda / Desenho: Manu Maltez
Depois de 10 anos sem lançar discos, o músico baiano encontra nova geração de artistas em Cambaco. Com eles, aposta em renovação - FOTO: Foto: José de Holanda / Desenho: Manu Maltez
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No dialeto moçambicano changana, cambaco é o elefante velho e sábio, que segundo a lenda se isola para morrer sozinho. Cambaco é também o novo álbum de Vicente Barreto, que marca a reinvenção do cantor e violonista baiano após 10 anos sem lançar disco.

Vicente foi um dos músicos mais ativos das décadas de 1970 e 1980. Entre seus parceiros estão Vinícius de Moraes, Tom Zé, Paulo César Pinheiro, Elton Medeiros, Gonzaguinha e Alceu Valença – com este último, compôs Tropicana, Cabelo no Pente e outras. Agora, aos 65 anos, Vicente está em metamorfose. Seus novos parceiros são Manu Maltez, seu filho Rafa Barreto e os membros do Passo Torto e Metá Metá: Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Marcelo Cabral. Assim como Elza Soares, em Mulher do Fim do Mundo, e Ná Ozzetti, em Thiago França ele junta-se a uma nova geração de músicos de São Paulo (cidade onde mora há 45 anos) buscando se recriar artisticamente.

“Eu só gosto de fazer um disco quando eu tenho alguma coisa para dizer, e me achei musicalmente sem nada para dizer nesses últimos 10 anos. Tudo o que eu compunha, achava parecido com o que eu já tinha feito antes. E um artista tem que se renovar, sempre buscar outros caminhos”, conta Vicente, em entrevista por telefone ao Jornal do Commercio.

Mediado pelo filho, Vicente conheceu uma linha de novos artistas. “Esse tempo parado foi o que poderia ter acontecido de melhor para mim. Eu precisava de novos parceiros, precisava descobrir uma nova geração”, comenta. “Eles começaram a frequentar a minha casa. Na época, o Rafa [Barreto] ainda morava comigo. Fomos nos conhecendo, trocando informações. Fui ouvindo todos os seus discos e ia aos shows deles. Em 2012, compus com o Rodrigo Campos Jardim Japão, música que entrou no disco dele Bahia Fantástica. Nesse momento, tive a ideia de convidá-los para o meu álbum”, conta.

O processo de composição surgiu naturalmente. “Eu sou um melodista. Escrevi as músicas e dei duas para cada um por a letra. Não dei orientação alguma para os eles, disse apenas a cada um: ‘faça o que você pensa’”, explica o músico.

As faixas de Cambaco mostram a simbiose das mente dos artistas. Vicente, “o elefante já na sua idade madura em sua sabedoria”, com suas origens musicais de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, é atravessado por novas perspectivas. A união não soa como uma identidade estrutural – pelo contrário, amplia as multiplicidades de cada criador. “Refazer o meu caminho até renascer/ Encontrar um outro jeito de caminhar/ Sem deixar a minha saudade atrapalhar”, diz a letra de Tataravó, de Rômulo Fróes.

Herança (de Rafa Barreto) e Preço do Amanhecer (de Manu Maltez, que faz referência à Serrinha, cidade natal de Vicente) seguem a mesma reflexão. “Eu busco me reconstruir, sempre. Acho esse momento da música brasileira muito forte. É uma cena que está acontecendo aqui em São Paulo, no Rio de Janeiro, e mesmo no Recife – Caçapa e Alessandra Leão são ótimos exemplos disso. Está surgindo uma geração de artistas com vigor e com uma potencialidade em todos os Estados. E eu quero dialogar com todos eles”, conclui.


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