Primeiro participante a pôr os pés no palco do The Voice Brasil na noite desta quinta-feira (17), o pernambucano Ayrton Montarroyos garantiu a sua vaga na final do reality global com aval do público e do jurado. Integrante do time de Lulu Santos, o recifense fez uma interpretação do clássico Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. Mais uma vez a internet bombou de comentários e elogios a Ayrton. No Twitter, a cantora Preta Gil confessou: "Sou Montarroyos. Você é uma grande esperança".
Na última terça-feira (15), Ayrton abriu as portas da sua casa para a equipe do Jornal do Commercio, declarando que os planos para o futuro são os mesmos: "Ganhando o The Voice ou não, eu só quero viver do que eu gosto, cantar. O plano é só um". Com a voz mansa, um copo de suco nas mãos e bastante humildade, ele demonstrou que, apesar da fama repentina, tudo segue da mesma forma em sua vida.
Sorriso no rosto e um pensamento sóbrio: apesar da grande repercussão de suas apresentações, que ascendeu seu nome na mídia, o intérprete de 20 anos se mantém calmo. Melhor: tenta percorrer seus passos com sutileza e sem apavorar o coração. “Um dia depois da Audição às Cegas, eu fiquei bastante assustado. Uma grande parte do Brasil me conhecia, me elogiava e criticava”. Ayrton conta que ficou receoso com o efeito de sua imagem na internet: “Algumas coisas que as pessoas escrevem ali são apavorantes. Dava medo de como eles reagiriam se me encontrassem pessoalmente”. O nervosismo proliferado pela audiência interferia no palco. “Na minha primeira apresentação, Lulu me disse que eu era um cantor muito melhor do que tinha mostrado lá”. Ayrton lembra que desafinou uma nota e completa: “A partir dali, eu me prometi que nunca mais entraria nervoso naquele palco”.
Sobre os elogios que vem recebendo, ele é categórico: “Quem não gosta de ter seu trabalho elogiado? Mas o elogio põe o cantor em um lugar perigoso, por dar uma sensação de conforto e marasmo”. “O artista precisa ser inquieto”, completa.
Com um disco na fornalha há três anos, ele já sente a pressão do público e da mídia: "Sei que as pessoas querem me ouvir em casa, em outro contexto, mas quero um CD com a minha cara. Agora as pessoas querem me colocar um prazo, mas vai ser da forma como eu quero".
Para cada apresentação, ele salienta que há uma preparação emocional e física: “Eu poderia ficar direto no Rio, mas prefiro voltar pra minha casa, receber a energia da minha família. Na maior parte do tempo fico calado, ouço uma música, canto, leio um livro, quase não saio”. Apesar de considerar positiva a interação do público por meio das redes sociais, ele diz que “a internet não para e que a todo momento tem alguém vendo sua vida, então é muita energia, e embora grande parte dela ser boa, eu tento me blindar disso para não me causar nem uma sensação de conforto e nem ficar ansioso demais. É o tempo d’eu me manter equilibrado e minha preparação comigo.”
A preparação vocal é pautada em ensaios, mas nada muito extensivo. “Eu não tenho aquilo de ‘vou parar agora para ensaiar’. Estou sempre verificando se está tudo no lugar, se a voz está boa, mas ao mesmo tempo procuro não ficar nesse desgaste, inclusive emocional, porque você vai perdendo o encanto da música. Acho que é bom ter um pouco de mistério para levar ao público. Tem uma parte da música que eu quero sentir e digo ‘Não! Isso aqui eu vou sentir lá”.
Canceriano com ascendente em Peixes e lua em Câncer, Ayrton confessa que tem dificuldade para dar continuidade às coisas que começa. A única coisa linear em sua vida é a música. Este relacionamento, por sinal, é muito anterior à virada de cadeira dos jurados do The Voice. Ele conta aos risos sobre a época em que, ainda menor de idade, com sede de soltar a voz, era acobertado por Elke Maravilha em casas de show de São Paulo. “Ela me escondia no seu camarim, se a polícia chegasse por lá, ninguém podia entrar”.
Com a bandeira brasileira em punho, o artista defende a MPB desde o início do programa: levou para o palco Força Estranha, de Caetano Veloso; Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro, e Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil, em sua última apresentação. Para ele, a música popular brasileira é algo natural ao seu eu: "Cresci escutando Dalva de Oliveira, Chico Buarque, Dick Farney. Então, talvez por eu ter essa sensibilidade à musica, é mais comum que eu busque cada vez mais a MPB".
Com sotaque pernambucano e muito orgulho, ele diz que em certo momento da vida percebeu que estava mudando a dicção: "Em algum momento eu me analisei, mas não mudei por determinação, mas sim porque eu fui tendo mais orgulho de quem eu sou como cidadão, como pernambucano, como recifense".
Ayrton retorna ao Recife nesta sexta-feira (18) para show, a partir das 22h, no Manhattan. No sábado ele volta para o Rio para entrevista ao Fantástico. Na próxima sexta-feira (25) ele disputa o grande prêmio com Renato Vianna, Nikki e Junior Lord.