O músico e professor inglês David Toop é referência no mundo da música experimental. Autor de livros como Ocean Of Sound (sobre as relações entre música, cultura e espaços físicos), Haunted Weather (sobre as mudanças no som após a tecnologia digital) e Sinister Resonance (uma história da audição), Toop é um pesquisador assíduo do impacto do som em nossa cultura e de como a humanidade inventa o silêncio e o sonoro.
O selo Sub Rosa lançou Lost Shadows: In Defence Of The Soul, o primeiro disco de Toop em sete anos. Gravado em 1978 em uma viagem à fronteira do Brasil com a Venezuela, o álbum contém gravações de campo de povos indígenas Yanomami. O trabalho está disponível gratuitamente em versão digital na plataforma de straming Spotify. A edição física (em CD duplo ou vinil simples) também inclui um texto de 40 páginas em que o músico descreve a sua experiência antropológica com os nativos.
Os Yanomami relacionam-se com o som não apenas como uma linguagem musical, mas sim como uma forma de transcendência completa. Através do som, realizam o transe e o trânsito interespecífico, evocam os espíritos ancestrais dos animais e antepassados xapiri.
As faixas incluem cânticos e músicas de rituais, cerimônias de cura xamânica e sons do ambiente, como insetos, pássaros e traças. No primeiro contato, tudo soa como um território esquisito, até inóspito. Mas essas gravações nos colocam uma reflexão crucial. Um encontro conosco em que não conseguimos nos reconhecer em nossos próprios reflexos sonoros. Os Yanomami não estão extintos: existem 35 mil na América do Sul. São parte do nosso mundo. Não um povo isolados, à parte, e sim um outro Nós. Minorias extranacionais, os índios enfrentam como podem ao liquidificador modernizante do Ocidente. Esses sons são retratos de sua resistência.