ENTREVISTA

Entrevista: Gilles Peterson com antenas para a música do Brasil

DJ e produtor inglês apaixonado pela música brasileira toca hoje no Boiler Room

GGabriel Albuquerque
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GGabriel Albuquerque
Publicado em 21/01/2016 às 9:49
Foto: divulgação
DJ e produtor inglês apaixonado pela música brasileira toca hoje no Boiler Room - FOTO: Foto: divulgação
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DJ, colecionador de discos, produtor e fundador de selos, Gilles Peterson é figura de renome da cena musical inglesa. Com a Acid Jazz Records, lançou a carreira de Jamiroquai e Brand New Heavies. Já fez mixes com Four Tet e Erykah Badu e comanda o selo Brownswood, dedicado a lançar artistas fora do eixo Europa-Estados Unidos, principalmente latinos e africanos. 

Peterson discoteca hoje no Recife no projeto Boiler Room, que convida músicos e DJs para um apresentação transmitida ao vivo pela internet. Realizado desde 2010, o evento já rodou todos os continentes e contou com nomes de peso como Björk, Jamie XX e Merzbow. Na edição pernambucana também tocam os DJs americanos Todd Terry e Nightmares on Wax, os paulistas Tahira, Nuts e o olindense 440, da Terça do Vinil. A rapper curitibana Karol Conka faz uma participação especial. Tudo será exibido no site www.boilerroom.tv das 21h às 3h. Nesta entrevista ao  Jornal do Commercio, Peterson fala de seu trabalho como diretor de selos e de sua relação apaixonada com a música brasileira.

JORNAL DO COMMERCIO – Você tem uma relação muito próxima com a música do Brasil. Como foi o seu contato inicial com esses sons? Lembra do primeiro disco?

Gilles Peterson – Eu cresci em Londres e havia o jazz, o funk e soul brasileiro. Maracatu Atômico, de Gilberto Gil, Bebel Gilberto e coisas desse tipo. Meu ponto de entrada foi Brazilian Love Affair, álbum de George Duke. É basicamente jazz e foi hit na Inglaterra, top 20 mais vendidos. A partir desse disco eu conheci Milton Nascimento (de quem tenho todos os discos), Flora Purim e outros. Meus amigos iam para o Brasil e traziam discos para vender na Inglaterra. Era parte da cultura do DJ já nos anos 80.

JC Você escreveu o livro Bossa Nova and The Rise Of Brazilian Music In The 1960s com Stewart Baker. Além das artes dos LPs, inclui também uma história social e cultural do período. Como foi essa pesquisa? Você descobriu algo que te surpreendeu? 

Peterson    Stewart é um cara acadêmico, então ele trouxe essa abordagem cultural e social da época. Eu tenho muitas centenas de discos brasileiros, então foi só reunir tudo. Aquilo é apenas a ponta do iceberg (risos). E quanto mais você pesquisa, mais coisa você descobre. Eu sou amigo de gente como Kassin e Ed Motta e fui conhecendo mais coisas, como Arthur Verocai, Gal Costa e José Prates, que tem um disco fantástico chamado Tam… Tam… Tam…!. Eu vou tocar esse disco hoje, misturado com eletrônicos, num contexto de DJ. É um disco antes da bossa, com influência africana e também da Europa. É um disco muito importante, gravado pela série Brasiliana. O selo Trunk Records lançou o LP em 2014 no Reino Unido e teve ótimas resenhas, foi disco do mês na revista Mojo. Uma das faixas (Nanã Imborô) foi usada por Jorge Ben em Mas Que Nada, como a história de Rod Stewart e Taj Mahal, só que ao contrário.

JC – Você já passou por alguns selos e agora comanda o Brownswood Records. Na sua opinião, qual o papel desses pequenos selos independentes no mercado musical hoje?

Peterson – É um prazer trabalhar com novos artistas. Para mim, é buscar posições maiores para esses músicos. Não é como um negócio, você não vai conseguir dinheiro com o selo. Para mim é uma forma de trabalhar com gente diferente e produzir com eles. Meu papel é levar o artista a um nível maior. Fazemos um trabalho de base mesmo. Fico muito feliz de ver gente como Jose James e Daymé Aroucena conquistando mais projeção e recebendo elogios.

JC – A Brownswood tem um projeto de música cubana, o Havana Cultura. Como é que funciona?

Peterson – É um projeto bem ambiocioso. Em parceria com o Havana Club, lançamos discos cubanos esquecidos e novos. Temos muita coisa que ninguém em Cuba estava interessado em lançar até cinco, seis anos. As relações políticas estão mudando, há uma certa abertura. O Havana Club é uma relação sem pressão política e sem pressão musical.

JC– Você já esteve no Rio de Janeiro algumas vezes. Imagino que já tenha ouvido o funk ou “batidão”. Björk, Scrillex e outros até tocam músicas do tipo em discotecagens. Qual a sua opinião sobre essa música?

Peterson – Eu respeito todos os tipos de música, especialmente música de rua, seja dubstep, hip hop ou o que for. Artistas desse tipo remodelam tudo. Não necessariamente toco isso, sou um DJ de club e quero rodar a velha música brasileira e conhecer coisas novas. A Karol Conka é uma dessas pessoas novas. Não sei se ela é conhecida no Brasil, para mim ela é ótima e vai se juntar à nós. Também por isso vamos passar no Recife, um lugar que nunca fomos.

JC – Você conhece algo da música de Recife?

Peterson – Muito pouco. Mas já estou falando com alguns vendedores de discos. Estou animado para conhecer o lugar.

Ouça abaixo duas mixtapes de Gilles Peterson só com músicas brasileiras:

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