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Recife encontra Nação Zumbi

Grupo se apresenta na capital pernambucana para comemorar o 20º aniversário de lançamento de 'Afrociberdelia'

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 07/05/2016 às 13:45 | Atualizado em 07/05/2020 às 20:51
Tom Cabral/Divulgação
Grupo se apresenta na capital pernambucana para comemorar o 20º aniversário de lançamento de Afrociberdelia - FOTO: Tom Cabral/Divulgação
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“Estamos redescobrindo a banda e revivendo o disco”. É com tom de reencontro que Alexandre Dengue, baixista da Nação Zumbi, analisa a atmosfera que circunda o grupo às vésperas de apresentar no Recife o show com a íntegra do Afrociberdelia, segundo e último álbum lançado com os vocais de Chico Science. O disco completa duas décadas em 2016, ano em que o mangueboy de Olinda faria o 50° aniversário. A homenagem dos recifenses acontece neste sábado (7), a partir das 22h, no Clube Português, junto a Siba e ao DJ Da Mata. Em entrevista ao JC, Dengue falou sobre o sentimento de revisitar a obra apontada como uma das 100 melhores da música nacional.

Foi Salvador, primeira capital a receber a turnê-tributo, que tirou dos veteranos um certo conforto de quem se acostumou a causar furor em novos e antigos fãs. O retorno não poderia ter sido mais empolgante. “Foi quando o show começou que vimos na prática o que é ter um disco clássico. Todas as músicas foram cantadas de cabo a rabo, me senti como um Los Hermanos", brincou. Depois da Bahia, os Zumbis lotaram o Bar Opinião (em Porto Alegre) e o Circo Voador (RJ), duas das mais icônicas casas do país. 

Das 23 faixas do disco (sendo três remixes de Maracatu Atômico) foram para o set list as 20 músicas que a Nação Zumbi gravou com Chico Science. Elas vão ser apresentadas na ordem em que aparecem no disco, mas o baixista Dengue assegura que a escolha não será sinônimo de apresentação automática.

“Vamos tocar como sentimos e lembramos, não tem por que reproduzir o que está gravado, a graça é fazer diferente". No palco, a atenção especial vai para instrumentais como Baião Ambiental e a íntegra de O Encontro de Isaac Asimov com Santos Dumont no Céu. “Tem sido engraçado tocar algumas que não costumam entrar na setlist porque a galera decorou até os arranjos, se mudamos alguma coisa, por menor que seja, eles percebem”.

Reinventados após a morte prematura de Chico, ele, Jorge Du Peixe, Lucio Maia, Pupillo e Toca Ogan estão à vontade para revisitar o tempo e espaço que precisaram deixar para trás. “É, de certo modo, matar a saudade da energia daquela época”. Sobre as comparações entre o segundo disco e o trabalho de estreia (Da Lama ao Caos, 1994), afirma: “É uma besteira achar o Afrociberdelia mais pesado, o peso existe nos dois, porque é algo que está na banda. O que houve de diferente foi o amadurecimento, a concentração de todos nós e a segurança de saber muito mais o que estávamos fazendo”, enfatiza.

As conversas sobre um novo trabalho já marcavam presença entre os cinco, mas foram deixadas de lado para dar espaço à preparação do tributo. O plano é que após passar por mais algumas capitais, o grupo se reúna para pensar o sucessor do homônimo Nação Zumbi (2014). 

Para a noite de hoje, a expectativa é de alcançar, além dos que acompanharam o turbilhão de batidas que invadiu o Recife nos anos 1990, aqueles que não estavam atentos ao que aconteceu na época.

“Será o encontro da Nação Zumbi com 1996 e do Recife com ela mesma”, finalizou. O clima saudosista promete ser arrematado com a exibição do documentário Chico Science - Caranguejo Elétrico, relembrando vida e obra do malungo. Produzido em parceria pela Globo Nordeste, RTV e Globo Filmes, o registro tem depoimentos de família, amigos e parceiros de trabalho de Chico.

CONSAGRADO PELO TEMPO

Os gritos de Chico Science ao entoar os primeiros versos da canção Mateus Enter indicavam que o segundo registro da Nação Zumbi em estúdio eternizava uma banda andando em passos simultâneos. Afrociberdelia veio ao mundo em junho de 1996, produzido pelo debutante Eduardo BiD e pelos próprios músicos. No título, a síntese do que faria soar bem aos ouvidos: tambor de raiz africana, projeção de um futuro cibernético e doses de psicodelia.

Com participações de Fred 04, Gilberto Gil e Marcelo D2, o resultado bem amarrado rendeu frutos imediatos e duradouros: a primeira turnê nacional, uma internacional e a 18ª posição entre os 100 melhores discos brasileiros.

Siba, cantor, compositor e amigo da banda aponta uma possível explicação: “O disco mostrou uma Nação muito mais refinada em texto, performance e produção. Clássicos não nascem prontos, tornam-se com o tempo, como aconteceu com Afrociberdelia”.

Leia entrevista com Siba Veloso.

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