Depois de dois anúncios não cumpridos, o público pernambucano poderá, finalmente, ver Estratosférica. O show da musa tropicalista Gal Costa
com direção musical de Pupillo - o pernambucano da Nação Zumbi que, de Marisa Monte a Céu, vem imprimindo sua marca de arranjador à Música
Popular Brasileira neste novo milênio - , fecha a noite do próximo domingo do Festival de Inverno de Garanhuns.
Depois do belíssimo Espelho d`Àgua, em que sua voz cristalina de 70 anos de idade se fez acompanhar apenas das cordas do guitarrista
Guilherme Monteiro, Estratosférica é um show que segue comemorando seus 50 anos de carreira. “Em Espelho d’água, cantei algumas canções
emblemáticas da minha carreira. Em Estratosférica, canto canções igualmente emblemáticas que gravei no passado. É um show mais rock’n roll, mais dançante, embora tenha momentos intimistas”, diz a cantora. Desde ontem, Gal está em Garanhuns. Chegou com o filho Gabriel e descansa no hotel para a apresentação de hoje à noite, marcada para perto da meia-noite.
É uma Gal entre a maturidade consciente, potente e a juventude sensual do tropicalismo a que será vista pelo público do FIG. O repertório mescla alguns gênios de sua geração com compositores décadas mais novos, pelos quais ela vem se inclinando com afago desde o eletronicamente retropicalista disco Recanto, seu antepenúltimo a ser lançado, um disco dirigido por Caetano Veloso que provocou tanto estranhamento quanto encantamento pela ausência total de instrumentos
tradicionais. A cantora gravou todo o álbum sobre bases eletrônicas.
Estratosférica abre, por exemplo, com a novíssima Sem Medo, Nem Esperança, um rock clássico e bem comportado assinado pelo veterano Antônio Cícero e pelo novíssimo Arthur Nogueira. Em medley, a canção é colada ao bluesy de Mal Secreto, clássico setenttista de Macalé. Além de Marisa Monte e Arnaldo Antunes, o repertório conta também com Jabitacá, uma canção composta, numa noite paulistana de apartamento, pelo trio pernambucano Bactéria, Junio Barreto e Lira. De clássicos de seu repertório, Como Dois e Dois, Cabelo e Pérola Negra estão presentes.
Aos 70 recém completos, registros mais graves da voz confirmados, a cantora que se diz encantada pela forma “joão-gilberteana” de Marcelo Camello compor seus rocks, diz estar disposta a seguir garimpando novos compositores. “Ah, não sei bem... Tem muita gente bacana, muita música que gostaria de gravar. Junio Barreto (de quem ela já havia gravado Santana é um ótimo compositor. Não saberia nominar aqui os compositores. Mas tem muitos”, ela diz. “Gal está especialmente tropicalista neste novo show”, comenta Barreto.
Com repertório e direção artística realizada pelo jornalista Marcus Preto, Gal anda especialmente interessada em si própria. “Neste momento, estou movida pela sonoridade mais ligada ao meu passado roqueiro. Também a clássica faz sentido. A grande vantagem é que todas essas sonoridades estão totalmente em sintonia com minha história. Posso fazer o que quiser. Mas o que tem me movido agora é o fato de ousar, fazer coisas novas”.
Depois do último show acompanhada apenas por cordas, Gal volta com banda. Pelo Brasil, ela tem se apresentado com Thomas Harres (bateria), Mauricio Fleury (teclado), Fábio Sá (baixo) e,de novo, Guilherme Monteiro na guitarra. Em março, houve duas datas anunciadas para Estratosférica no Teatro Guararapes. Sem maiores justificativas, a produção da cantora cancelou as duas apresentações. Da segunda vez, ela apresentou o show em São Paulo. Agora, o show da baiana pode ter um bônus. Como a Nação Zumbi tem um show programado para a segunda-feira no FIG, é possível que Pupillo reassuma a bateria, como fez no início da carreira do show.
Estratosférica, com Gal Costa. Domingo, 24 de julho, na Praça
Dominguinhos, durante o Festival de Inverno de Garanhus. Acesso
gratuito.
