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Kiwanuka, Childish Gambino e Frank Ocean apontam futuro do soul e R&B

Este ano trouxe três discos de artistas que resolveram inverter um pouco as regras do jogo dos gêneros da música

Do Estadão Conteúdo Pedro Antunes
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Do Estadão Conteúdo
Pedro Antunes
Publicado em 26/12/2016 às 13:30
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Este ano trouxe três discos de artistas que resolveram inverter um pouco as regras do jogo dos gêneros da música - FOTO: Divulgação
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A virada dos 20 anos para os 30 é decisiva. Quem acredita no poder dos astros, culpa o tal retorno de Saturno pelas revoluções que costumam ocorrer naqueles que vivenciam essa virada de década de vida. Outros, só entendem isso como o enfim encontro com a maturidade. Há, seja qual for a explicação, o desejo de mudar. O ano de 2016 trouxe três discos de artistas que, ao vivenciarem justamente este momento, resolveram inverter um pouco as regras do jogo dos gêneros da música.

Michael Kiwanuka e Frank Ocean, de 29 anos, e Donald Glover, o filho de Danny Glover que assume o nome de Childish Gambino, de 33, expressam em três dos melhores discos de 2016 o desejo de transformação. No caso deles, é a renovação de gêneros, da soul music e do R&B, em canções cujas temáticas discutem as transformações. 

Michael Kiwanuka, músico nascido e criado na região norte de Londres, está prestes a ingressar na lista dos trintões. Aos 29 anos, ele lançou o segundo disco da carreira, Love & Hate, um petardo que acalma e machuca corações, entre uma faixa e outra. Dono de uma das melhores vozes da música dessa geração dos 30 e poucos anos, ele canta com alma e tem um domínio da guitarra tão absoluto que, por vezes, ele a esconde em segundo plano para deixar os outros instrumentos chamarem a atenção para si. Escolhido como o "som de 2012", quando despontou, pela BBC e chamado para abrir os shows da turnê do fenômeno Adele, logo naquele ano, Kiwanuka avalia que o segundo trabalho soa dessa forma justamente por atravessar esse momento tão comum na vida de qualquer um.

"É até por isso que esse disco se chama assim", diz ele, à reportagem, por telefone, de Birmingham, na Inglaterra, onde depois faria mais um show da intensa turnê de 2016. Amor e ódio, sentimentos tão díspares, segundo ele, só se tornam mais fáceis de assimilar e até distinguir a partir de uma certa idade. "Quando se tem 20 e poucos anos, os sentimentos na vida são muito confusos. É nessa época da vida que você começa, realmente, a descobrir, experimentar. A partir de algum momento, você começa a ter um entendimento muito maior a respeito de si mesmo. Você se encontra no meio desse furacão e, dessa forma, torna-se mais confortável consigo mesmo. Acho que o entendimento a respeito de amor e ódio chegam justamente nesse momento da vida."

MAIS CONSERVADOR

Se comparado a Ocean e Gambino (leia mais abaixo), Kiwanuka pode ser considerado o mais conservador musicalmente. Isso se deve, provavelmente, ao fato de seu novo disco ser mais orgânico, quase vintage na essência, enquanto os outros dois músicos enviesam por caminhos que passam pelos samples, baterias eletrônicas, loopings e efeitos esteticamente sintéticos. A renovação de Kiwanuka está na forma como ele trouxe a música gospel, com backing vocals nos refrões, para um encontro com um soul moderno.

Curiosamente, o artista nasceu musicalmente quando viu o grunge norte-americano atravessar o Atlântico e chegar ao Reino Unido. "Nirvana, Pearl Jam, era esse o tipo de som que eu curtia ouvir", ele conta. "O mais importante, hoje, é fazer uma música que inspire essa renovação." E, para encorajar aqueles que beiram os 30, como ele, Kiwanuka aconselha: "Tudo o que você precisa fazer para garantir a mudança é começar". 

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