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Legião Urbana tem biografia contada a partir dos discos que lançou

Chris Fuscaldo, a autora, também prepara bio de Zé Ramalho

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 19/02/2017 às 8:53
foto: Tatynne Lauria/Divulgação
Chris Fuscaldo, a autora, também prepara bio de Zé Ramalho - FOTO: foto: Tatynne Lauria/Divulgação
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Discobiografia Legionária (Leya), da jornalista fluminense Chris Fuscaldo, que autografa o livro hoje, a partir das 17h, na Livraria Cultura, no Paço Alfândega, é um livro de gênese curiosa. Começou, em 2008, com um convite à autora, pela EMI, para escrever um texto para a reedição da obra do Legião Urbana: "Fiquei na dúvida se teria algo mais a acrescentar às maravilhosas histórias contadas por tantos autores em seus ótimos livros sobre a banda ou sobre seu vocalista, Renato Russo. Mas bastou começar a bateria de entrevistas que me dariam base para a reconstrução de uma história pouco explicada, a da gravação dos discos, para eu lembrar que existem mais coisa entre o céu e a terra do que a sonha a nossa vã filosofia", conta Chris Fuscaldo na introdução do livro. Para escrevê¬-lo, ela interrompeu outra biografia, a de Zé Ramalho, que vinha tocando devagar já que não tinha editora certa para o projeto: "O livro sobre o Zé não está pronto ainda. Estou tentando terminar, mas é um livro que dá muito mais trabalho, afinal, tenho que contar uma história que começou em 1949 e não acabou ainda. A previsão de terminar o texto é no final deste primeiro semestre. No máximo no segundo. Mas este ano ainda. Zé tem uma legião de fãs que eu acho que são meio parecidos com os da Legião. São fãs que colecionam coisas, que conhecem todas as músicas", comenta. Depois que os discos da Legião Urbana foram lançados, ela passou a receber mensagens de fãs do grupo, por e¬mail, pelas redes sociais, todos interessados no libreto que acompanhou as reedições do LU. Chris achou que não era ético publicar isoladamente o trabalho feito para a gravadora, ao mesmo tempo continuava incomodada pelas alterações sofridas pelo texto na versão final. Resultado: resolveu estendê¬-lo e transformar o material em livro. "Acho que o diferencial do Discobiografia Legionária é que dei voz aos coadjuvantes na história da Legião Urbana: produtores de discos, engenheiros de som, diretores artísticos das gravadoras, músicos contratados. Dessa forma, ouvi histórias de bastidores que nem toda biografia consegue trazer", explica a autora. A trajetória da banda é, pois, contada através dos detalhes das sessões dos discos da banda, gravações avulsas, incluindo o trabalho solo de Renato Russo, o que, na verdade, é o que realmente interessa. Chris Fuscaldo deixa a vida dos músicos em segundo plano e foca no desenvolvimento das canções, dos discos, com minúcias técnicas, que não foram preocupação principal dos biógrafos do Legião Urbana. "Não quero som de FM, quero minhas músicas tocando nas AMs", a exigência de Renato Russo durante a mixagem do álbum de estreia revela um detalhe de uma época cada vez mais distante. Quando o rádio tocava todo tipo de música e as emissoras tinham suas frequências divididas por estratos sociais. As FMs tocavam a música classe A, as AMs eram sintonizadas pelo povão. A história dos discos da Legião é obviamente vinculada à história da indústria fonográfica. Quando o grupo começou, a indústria estava chegando ao ápice, quando terminou, as primeiras crises acossavam as gravadoras. O álbum inicial da Legião Urbana, grupo que vendeu 435 mil cópias, um absurdo para hoje, uma boa vendagem em 1985. Recaiu sobre o banda a responsabilidade do segundo disco, que vendeu 921 mil LPs. No livro, esclarecedores depoimentos do produtor Mayrton Bahia, que produziu os primeiros álbuns do LU. A Legião Urbana foi a banda do Brock mais bem-¬sucedida comercialmente, vendeu mais de três milhões de álbuns. Chris Fuscaldo, inevitavelmente, teria que relatar fatos que constam em outras biografias, até porque eles são ligados à feitura dos discos. O que inclui o temperamento complexo de Renato Russo que, em meio a uma gravação ia ao bar da esquina tomar um conhaque, precisava ser resgatado de volta ao estúdio, nem sempre em condições de continuar a sessão. Discobiografia Legionária não é livro apenas para fãs da banda, mas igualmente para quem quer conhecer os bastidores de uma das mais cultuadas bandas do rock brasileiro.

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